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Adolfo Rogélio Nunes

1951 - 2020

De bem com a vida, sempre sorrindo. Amava a natureza, os dias ensolarados de verão, os filhos e os netos.

"Para-raio". Esse era seu apelido de infância na sua terra natal, a pacata cidade de Santa Leopoldina, no Espírito Santo. Lá, fez amigos que levou para a vida inteira. Mas o coração dele era mesmo mineiro. Mudou para as Minas Gerais há mais de quarenta anos, onde casou e teve três lindos filhos: Kildary, Andrey e Ariadny.

Era técnico agrícola e amante fiel da natureza. Brigava com quem cortava árvores. Fazia questão de plantá-las em todos os lugares. Jogar peteca era outra paixão dele, que contagiou seus amigos e filhos. Em Santa Bárbara não há quem não conheça o "Rogério da peteca".

Estimulava os jovens e seus três filhos a praticarem esportes, e, se fosse peteca, melhor ainda. Depois que se aposentou, cuidar de jardins era seu passatempo predileto. Cuidava dos jardins de todos da família e dos vizinhos também. Sentia-se muito bem fazendo isso, mesmo que ao final do dia precisasse de um analgésico para aliviar as dores musculares. E ai de quem o chamasse de jardineiro! Ele se autointitulava "paisagista".
E costumava dizer que Burle Marx deveria ter aprendido algumas coisas com ele.

Seus filhos eram seus melhores amigos. "Quando reunia a família, acendia logo a churrasqueira para fazer sua especialidade: o melhor churrasco que já comemos", lembra com ternura a filha Ariádny.

Também era mestre em preparar a verdadeira moqueca capixaba. Não tinha nada que o deixasse mais alegre do que reunir os três filhos. Mas o que fazia seu coração bater mais forte mesmo, eram os dois netinhos, João Vicente e Miguel César. Fez um carrinho de rolimã para cada um deles e fazia questão de ensinar brincadeiras de seu tempo de infância. Dizia que "era para que eles brincassem de verdade", lembra Ariádny.

Quando estavam com o avô, os netos não davam atenção para mais ninguém, e tentavam imitar o tempo todo os trejeitos e manias dele. Como, por exemplo, "ficar só de bermuda, sem camisa". Ficavam no colo do avô por muito tempo, e, de madrugada, fugiam para a cama dele.

Sempre disse aos filhos que "as maiores heranças que ele poderia deixar, seriam o caráter e os estudos", e cumpriu com essa promessa.

Sérgio, um amigo de infância de Adolfo Rogélio, ao saber que ele seria cremado, disse: "em qualquer planta que jogasse as cinzas, daria ouro".

Para a família, fica a saudade desse pai e avô carinhoso, mas ele deixou também as sementes de todo amor que plantou nos jardins da vida daqueles que com conviveu.

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Essa é uma carta aberta de Rita para seu companheiro de vida Adolfo Rogélio:

Memórias de meu Tesouro.

Para algumas pessoas você foi Rogélio, Rogerão, para outras Adolfo, Véio; mas para mim, simplesmente Tesouro.

Nos conhecemos nessa jornada da vida e a convivência como colegas de trabalho foi me apresentando a pessoa de caráter que você era. Orgulhoso das coisas que fazia, exigia dos outros a mesma forma perfeccionista com que assumia suas responsabilidades: pontualidade e transparência nas ações.

Você Adolfo, foi na essência, meu tesouro, o que de mais precioso e valioso eu conquistei, por isso eu o chamava carinhosamente dessa forma. Você foi e será meu eterno tesouro.

Vivemos uma linda história de amor, por oito anos fomos muito felizes. Foi um breve período, mas com incontáveis finais de semana recheados de alegria, churrascos embalados por muita música, regados a cerveja e com o brilho de nosso amor zeloso com tudo o que fazíamos um para o outro. Compartilhávamos a vida com paixão e harmonia, isso nos trazia paz.

Um ano sem sua presença e continuo sentindo sua falta. Mas há um propósito em tudo isso, Deus é ciente de tudo e faz o melhor para nós, pois ele sabe o que não sabemos e vê o que não vemos.

Você será sempre lembrado como um grande homem, um pai amoroso, um avô carinhoso, amigo sincero e um companheiro que não tenho palavras pra descrever.

De nós dois, guardo memórias desse tempo tão feliz e uma saudade imensa. Levarei para sempre em meu coração seu sorriso largo e tudo que vivemos.

Agradeço a Deus por nossa linda história de amor, por um dia nossos caminhos terem se cruzado nessa jornada da vida, e a você, meu tesouro, por ter me feito tão feliz.

Me despeço de você, orando a Deus que te dê o descanso eterno, que a luz perpétua te ilumine.

Fique em paz meu tesouro, um dia nos reencontraremos. Mas até lá, você ficará guardado pra sempre no baú do meu coração.

Com amor, da guardiã do baú,
Sua Rita.

Adolfo nasceu em Santa Leopoldina (ES) e faleceu em Itabira (MG), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha e por sua companheira de Adolfo, Ariádny Rodrigues Nunes e Rita Edilene Machado. Este tributo foi apurado por Lila Gmeiner, editado por Cristina Marcondes, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de setembro de 2021.