1952 - 2020
A queridona dos sobrinhos, amante do samba e da Imperatriz.
Alaíde nasceu e viveu no tradicional bairro carioca de Ramos, um dos principais redutos do samba e do chorinho. Sua vida foi dedicada à família. Seu sobrinho Amarildo, que a considerava como uma segunda mãe, conta que embora ela tenha trabalhado no comércio por um tempo, abriu mão de tudo para ser cuidadora. Segundo ele, essa era sua informal porém verdadeira profissão, a que melhor a define. Cuidou da mãe, do irmão, procurava atender cada um que precisasse, incluindo as amigas e amigos quando estavam doentes. Era tão querida que sua companhia chegava a ser disputada por todos. Por isso muitos a chamavam de “queridona”.
Rosana, sua sobrinha, conta que “a tia Alaíde era muito brincalhona e gostava de boas piadas. Sua alegria era contagiante. Falava com bom humor até da morte”. Embora sentisse muita saudade dos parentes que já tinham morrido, brincava dizendo: “eles podem esperar um pouquinho mais por mim, não vou tão cedo”. Um dia antes de ser internada com suspeita de Covid, “mandou para a família um vídeo engraçado pelo whatsapp”, complementa Amarildo.
Gostava muito de viver. Seu programa preferido era sair nos finais de semana com os sobrinhos para curtir um bom samba e tomar uma cerveja geladinha. Estava sempre pronta para aceitar um bom convite. Quando assistia os jogos do Flamengo nos barzinhos, sempre pedia aos amigos do grupo para cantarem Imperatriz. Seu irmão mais novo foi presidente da Imperatriz Leopoldinense. Nos feriados de Carnaval, adorava passar uns dias em São Pedro da Aldeia.
Os sobrinhos contam que da última vez em que saíram juntos foram num pagode na Lapa e Alaíde, aos 68 anos, estava radiante dançando ao som do batuque. Uma mulher de espírito jovem, cheia de saúde e entusiasmo.
Iria completar 40 anos de casada com Osmar Nascimento, um grande parceiro, homem de 72 anos que também gosta de cuidar”: “ele vai religiosamente na casa do pai de 102 anos passar o sábado”, conta Amarildo.“ “Então, a gente saía com Alaíde e quando voltávamos nos encontrávamos com ele, que chegava do pai, e ficávamos o resto da noite juntos”.
O casal teve uma filha, Vanusa, a quem Alaíde amava muito e de quem era confidente; e uma neta, Caroline, a quem a avó coruja chamava de Carol. Ambas, filha e neta, eram as paixões da vida dela.
Alaíde nasceu no Rio de Janeiro e faleceu no Rio de Janeiro, aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos sobrinhos de Alaíde, Amarildo de Jesus Xavier e Rosana Gomes da Silva Xavier. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Bettina Turner, revisado por voluntário e moderado por Rayane Urani em 24 de junho de 2021.