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Alan Donizeti de Freitas Martins

1978 - 2021

Apaixonado por motos dizia que só largaria seu par de rodas quando tivesse o seu par de asas.

Filho de Mauro e Cristina, Alan foi uma criança muito arteira. Quando crianças, ele e a irmã Priscilla brincavam muito juntos, eram parceiros nas travessuras. A diferença de idade entre eles era de quatro anos e ele sempre foi um irmão bastante protetor.

Priscilla se recorda de algumas dessas travessuras e relata: “Tenho diversas recordações de infância, mas a que sempre lembrávamos foi quando nos trancamos no banheiro do apartamento em que morávamos na tentativa de comer duas latas de salsicha. Ele pedia para eu comer rápido enquanto tentava esconder algumas salsichas no ralo. Enquanto isso, a empregada esmurrava a porta para que saíssemos de lá".

Na adolescência, por motivos de trabalho, Alan mudou-se para outra cidade. Foi um rapaz rebelde, que aos 19 anos teve seu primeiro e único filho, Heron. Permaneceu casado por quinze anos, até a sua separação. Com o tempo, amadureceu, passou a escutar mais os conselhos dos pais e a entender mais sobre a vida, tornando-se um homem correto.

Mais tarde casou-se com Jordânia, para quem era um marido extremamente amoroso e companheiro! Era apaixonado por motos e sempre teve o desejo de ter uma. Ao lado da esposa, colocou esse sonho em prática. Comprou logo uma XRE 300 e viajou por inúmeros lugares, como Cabo Frio, no Rio de Janeiro, e cidades da Bahia e de Minas Gerais. A paixão era tamanha que criou um canal numa plataforma de compartilhamento para mostrar vídeos de suas viagens.

Numa dessas viagens foram a Curitiba comemorar mais um aniversário de casamento. Lá, ele que se julgava apenas resfriado, piorou contaminado pelo coronavírus. Assim, além de ter encurtado o tempo do passeio, fez um grande esforço para levar a esposa de volta para casa — de moto — e deixá-la em segurança.

Alan teve inúmeras profissões. Foi "office boy" e "barman"; cabeleireiro, auxiliando a mãe; trocador de ônibus; representante comercial de produtos de beleza; segurança, vendedor e "sushiman", seu último trabalho.

Gostava de cozinhar em família; amava sentar-se à mesa e conversar enquanto bebia cerveja. Quando alguém animava, gostava muito de pescarias. Por toda a vida ele manteve uma regra: toda vez que sobrava tempo, viajava ou fazia o seu churrasco.

Alan era muito querido. Vivia em busca de uma razão profissional que lhe satisfizesse, que o deixasse feliz. Alimentava o sonho de ter o próprio negócio e ser bem-sucedido, e estava realizando esse sonho ao encontrar-se profissionalmente após ter feito um curso de "sushiman" em São Paulo e ter conseguido o reconhecimento que buscava há anos.

As memórias se multiplicam para Priscilla nas lembranças dos churrascos e da comida japonesa que ele preparava; do hábito de ir cotidianamente à academia; do estar sempre muito cheiroso; da sua torcida pelo time do Cruzeiro; da sua forma protetora de comprar qualquer briga para proteger os seus e até da sua "cabeça dura", mesclada com seu coração muito generoso.

Priscilla relembra: “A música que sempre me faz lembrar do meu irmão é "Tears of the Dragon", de Bruce Dickinson. Durante a vida, ele gostou de "pop rock" brasileiro, depois de "heavy metal", passando ainda por pagode e música eletrônica, estilo que sempre costumava ouvir.

Ela destaca que Alan deixou como principal ensinamento "que sempre devemos buscar o que nos faz feliz e assim viveu. Ele sempre viajou, saboreou as comidas que gostava, estava na companhia de pessoas queridas. Viveu intensamente e fez o que lhe trazia plena satisfação"!

Alan nasceu em Belo Horizonte (MG) e faleceu em Mateus Leme (MG), aos 42 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de Alan, Priscilla Isabel de Freitas Martins. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 23 de novembro de 2022.