Sobre o Inumeráveis

Alcirene Aires Moura

1961 - 2020

Construiu sua vida profissional no ambiente hospitalar e encontrou o amor em um baile, dançando ao som de Lionel Richie.

Alcirene era conhecida por muitos, desde a infância, como Cici. Nascida em Porto Nacional, à época em que o Tocantins ainda pertencia ao estado de Goiás, era a filha mais velha de uma família de seis irmãos.

Sua história de vida foi construída em diferentes lugares. Foi a única a desgarrar do berço e buscar algo fora do seio familiar. Ainda jovem, foi morar com a bisavó, Juliana, para estudar em um colégio de freiras, pagando as mensalidades escolares com serviços de limpeza.

Mais tarde mudou-se para Belo Horizonte. Foi contratada como auxiliar administrativa em um hospital. Acabou descobrindo uma grande paixão pelo ambiente hospitalar.

Diante das notícias de melhores oportunidades surgindo em Brasília, não teve dúvidas em procurar parentes que moravam lá e, mais uma vez, mudou-se de cidade buscando evoluir. Uma vez na capital federal, sua vida não foi fácil, passou por maus pedaços, e manteve-se perseverante.

Trabalhou em uma clínica, onde seu chefe reconheceu seus talentos, e indicou-a para um concurso na Fundação Hospitalar, hoje Secretaria de Saúde do Distrito Federal.

Em 1984, ela não só ingressou no Hospital Regional da Ceilândia, como também iniciou a bonita história da família que constituiu. Num baile dos servidores e, ao som da música "Say you, Say me" do saudoso Lionel Richie, foi tirada para dançar. Surgiu naquela noite um sonho de amor que perdurou por longos anos, e que foi coroado pelo nascimento da filha Rosana em 1986, e do filho Fabrício em 1988.

Assim, a vida profissional do casal foi transcorrendo, ela no hospital acima citado, enquanto o marido foi transferido para o centro de saúde Nº 7, onde tempos depois, ela também viria a trabalhar. O casal fez inúmeras e boas amizades ali.

Ali permaneceu por dezoito anos e atendeu algumas centenas de milhares de pessoas, cumprindo sua função com maestria e trabalhando em tempo integral, de forma muito responsável e pontual.

Os filhos foram criados com muito amor e Alcirene, embora residisse distante dos familiares, esforçava-se para manter os vínculos com os parentes, realizando viagens anuais de férias. Nestas ocasiões ela se tornava uma verdadeira mestre de cerimônias que discursava com palavras doces e atingia o coração de todos, deixando claro a importância que dava para a preservação dos laços de família.

Infelizmente, em 1999, uma parte dessa família se foi com a morte de seu marido. A ausência paterna, entretanto, apesar de muito sentida, não abalou a sua união com os filhos que mais tarde se casaram e enriqueceram sua vida afetiva com a chegada dos netos, Bernardo e Letícia que se tornaram os xodós da vovó Cici.

Ela era um ser humano incrível que viveu para ajudar o próximo; tirava do seu próprio sustento para dividir com o próximo. Amorosa, tinha ainda como fonte de afeto uma cachorrinha muito dócil; que foi sua fiel companheira em um período bem difícil de sua vida; ficando agora aos cuidados carinhosos dos filhos e netos.

Inúmeras homenagens foram recebidas pela família após o seu falecimento. E foi assim que seus filhos descobriram o quanto Alcirene era querida. Os portais de Brasília publicaram dezenas de comentários de pessoas que eram desconhecidas para eles, ressaltando a importância da contribuição de seu trabalho e também a humanidade e generosidade com as quais ela o realizava.

Esteja onde estiver, será sempre lembrada como uma mulher forte que nunca se negou a fazer um favor ou surpreender positivamente as pessoas com quem conviveu.

Alcirene nasceu Porto Nacional (TO) e faleceu Brasília (DF), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado Filho de Alcirene, Fabrício Aires Freire. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Vera Dias, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 23 de janeiro de 2021.