1959 - 2021
Se desse vinte voltas na rua, em todas levaria algo de comer para casa, pois amava uma mesa farta e variada.
Nascido em Riachão, no sul maranhense, Aldaci Antônio transferiu-se com a família para Tupiratins, no então Norte de Goiás - que depois formaria o território do estado de Tocantins. Alguns anos depois fixaram residência na cidade de Colinas do Tocantins. Ao lado dos pais e de sete irmãos, a infância foi de trabalho árduo na roça. Foi em Colinas que ele conheceu a companheira da vida, Marizaura, apresentada por amigos em comum. Ele e a Pequena — apelido que conferiu à esposa — tiveram três filhos, Thiell, Thieter e Thatyane, a caçula que faz esta homenagem em nome da família, e uma vida de muito trabalho, harmonia e prosperidade.
Com cumplicidade, Aldaci e Pequena enfrentaram dificuldades e sempre orientaram os filhos a manterem-se unidos. Até no trabalho. “Meu pai sempre teve orgulho de contar sua história, 'sofrida, porém vitoriosa'", frisa Thatyane. "Amava sentar com minha mãe e meu filho para tomar café e jogar dominó. Fazia questão que todos almoçassem sempre juntos, sentados à mesa, e dizia que esse era o momento único de cada dia. Não deixava data nenhuma passar sem um jantar ou almoço especial, fosse aniversário ou Dia dos Pais, das Mães, Natal — toda data era comemorada", relembra a filha.
A família se completava com os seis netos: Luann, Yasmin, Sophia, Camila, Yann e Ester. Uma neta de coração também foi incorporada à família. Desde pequena, a menina chamava Aldaci de vovô. Filha de uma amiga e ex-funcionária, para ele, Erika era a sétima neta...
O amor pela lida na roça, associado à perseverança e à dedicação, trouxe prosperidade para Aldaci Antônio. “Meu pai é meu grande orgulho. Ele trabalhou incansavelmente para dar uma vida tranquila para família. Ensinou aos três filhos o caminho da honradez, sempre fazendo questão de ter a família unida”, diz a filha. Para ele, a casa cheia era sempre motivo de satisfação e festa. Thatyane recorda o pai, que frequentou a escola até o quinto ano e se tornou homem de grande visão empresarial, já que sempre teve “inteligência grandiosa”.
Na infância da caçula, a família tinha um comércio de secos e molhados e açougue. Depois de anos, Aldaci abriu um comércio de madeiras e manteve suas propriedades rurais, onde trabalhava ao lado dos filhos, convivia com os netos e contribuía com a sua formação. Com os pequenos, gostava de andar no meio do gado, no final da tarde, e colocar sal no cocho para ver os animais de juntarem. “Admirava uma criação de galinha caipira e sempre falava que minha mãe era a melhor pessoa que ele conhecia para cuidar de qualquer tipo de bicho”, conta Thatyane.
A caçula era quem Aldaci considerava mais parecida com ele entre os três filhos. “Ele sempre disse que eu era a mais parecida, nos gostos peculiares, na intuição... Éramos muito companheiros, ele falava que era bobeira quem tinha opção por filhos homens, que eu o acompanhava para mexer com gado, para fazer entrega de mercadorias do nosso comércio, que gostava de mexer com nossas chácaras igual a ele... Ele falava para meu esposo que filha mulher podia tudo assim como os filhos homens, e que eu era a prova disso”, lembra com carinho a filha.
Thatyane, a mãe, os irmãos e depois os netos iam vendo crescer as propriedades rurais com uma marca registrada: os pomares com muitos tipos de fruta. Um desses locais se tornaria sua paixão: a Chácara Caraíba Ferrada, banhada pelo rio Pombas. Era na Caraíba Ferrada — como a família a chamava — que Aldaci preferia passar os finais de semana e feriados, como opção para curtir a paz da natureza, as águas geladas do rio e receber amigos e familiares, como lembra Thatyane. “Ele sempre dizia que ali era lugar de alegria, de esfriar a cabeça”, diz a filha lembrando as palavras do pai. Apaixonado por música – incluindo as gauchescas e as de raiz caipira – ele fazia questão de dizer que tinha orgulho das origens e de gostar das coisas da roça. “Amava uma comida caipira, uma mesa farta. Fazia questão de fazer os cardápios de quando ia receber alguma visita”, conta a caçula.
Sempre atento ao seu entorno e à sua comunidade, gostava muito de política. Costumava encontrar o irmão, vereador de Colinas do Tocantins. Juntos, montavam o tabuleiro político local e regional...
Em família, ele gostava de relembrar as origens. “Ele sempre contava para os filhos, netos, nora e genro os acontecimentos da época de criança... Quando nos sentávamos para um café, num dia comum, ele contava suas histórias de infância. E com o jeitinho que tinha, ia cativando todos a sua volta. Além de grande conselheiro, tornava-se amigo dos amigos dos filhos, que Aldaci fazia questão de receber em sua casa.
E na casa de Aldaci e Pequena, não faltavam os tradicionais doces, que eram feitos por ela, com a supervisão dele. “Esta foi outra marca do meu pai. Ele fazia questão de servir os doces para todas as visitas. Eram doces de banana, abacaxi, caju, coco, leite; uma variedade, sempre tinha de diversos sabores”, lembra Thatyane, que apresenta uma outra faceta do pai: “Ele gostava muito de bolo de arroz e milho, e sempre pedia pra gente deixar bem douradinho para ele comer as esquinas do bolo”.
Aldaci Antônio vibrou quando recebeu a primeira dose da vacina contra Covid-19, em abril de 2021. “Falava com orgulho para todos que tinha se vacinado, mas infelizmente pra ele a vacina chegou tarde, pois ele tinha problemas renais, que foram agravados quando contraiu o coronavírus”, lamenta a filha.
Aldaci deixa um legado que se perpetuará por todas as suas gerações. Thatyane lembra o pai como uma fortaleza e uma referência para a família e em sua comunidade. Sempre foi um homem muito íntegro e de conduta ilibada. Sempre fez questão de ser amigo de seus funcionários e de manter essa amizade mesmo após o fim do vínculo empregatício. Ajudava ao próximo sempre que podia. Foi um homem de grande fé, que não se deixava abalar pelas dificuldades que enfrentava. “É assim que todos nós gostaríamos que ele fosse lembrado”, enfatiza a filha.
Aldaci nasceu em Riachão (MA) e faleceu em Colinas do Tocantins (TO), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Aldaci, Thatyane Soraya Mascarenhas Campos Aires da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 28 de março de 2022.