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Aldinar Maria D’Oliveira

1964 - 2020

Uma muralha de afeto que apoiava incondicionalmente filhos e netos.

Aldinar Maria não parava quieta, tampouco seu coração, que vivia apaixonado. Foi casada com Ary, depois com Carlos e, por último, com Ademir. Com Ary teve três filhos, Viviane, Gilberto e Gabriel. Aliás, o caçula recebeu esse nome de anjo que significa “Enviado de Deus”, pelo fato de Aldinar ter engravidado mesmo usando remédio contraceptivo. A mãe entendeu que aquela criança só podia ser um presente do céu. Também tiveram três netos: Emerson, Guilherme e Ágatha que agora, em agosto de 2020 tem apenas um mês; partiu antes que a neta caçulinha viesse ao mundo, não a conheceu.

O primeiro neto, Emerson, chegou quando Aldinar contava apenas 34 anos, e sua filha, Viviane, muito jovem, tinha 14 anos. O pai ficou muito bravo. O casal chegou a brigar sério por conta desse fato. Mas Aldinar não arredou o pé; deu todo apoio à sua filha para que trouxesse seu primeiro neto ao mundo e ajudou demais em sua criação. Era uma avó muito parceira e presente; “não é à toa que meus sobrinhos eram, e ainda são loucos por ela”, conta o filho, Gabriel.

Aldinar e Ary se separam em 2008. O filho Gabriel tem certeza de que a mãe ainda amava seu pai. Mas, conta que ela sempre teve muitos pretendentes, e namorou muito depois da separação. “Com seu jeito extrovertido e alegre tocou o coração de muitos homens”, lembra Gabriel.

Certa vez o caçula estava em casa com sua mãe, quando ela perguntou como é que iam indo os namoros com as meninas. Gabriel, então, respondeu “Eu não namoro meninas, mãe. Eu namoro meninos”. A mãe parou, olhou para o filho com ternura e, de um jeito divertido, perguntou: “Mas, desse jeito, como é que você vai me dar netos?”

Essa mulher batalhadora não rejeitava trabalho, tinha muitas habilidades, foi acompanhante de sua avó até a senhorinha partir desse mundo; também trabalhou como babá e como jardineira. Ano passado, ela cuidou de um senhor idoso e o acompanhava às seções de hemodiálise.

Além de amar as plantas e cuidar delas com todo carinho, Aldinar era apaixonada por sua cadela Flora e por sua gatinha Crô, que andam com muitas saudades de sua “mãezinha”. Outra coisa que a deixava muito animada, era colocar uma cadeira na calçada para se inteirar das “novidades” da vizinhança.

E foi esse temperamento inquieto, essa necessidade de estar no movimento, de sair e passear que fizeram Aldinar ser infectada pela Covid. Ela tratava, já há algum tempo, a diabetes e a hipertensão. Depois que pegou o vírus, não foi mais possível controlar a taxa de glicose. Numa quinta-feira, véspera de ser internada, mesmo estando já muito fraca, Aldinar estava deitada em sua cama rindo e brincando com o filho caçula e o neto. Disse que iria melhorar logo para eles irem à praça. Mas, não conseguiu realizar esse sonho. Na sexta teve de ser internada e, no domingo, não resistiu à intubação.

"Mãe, avó, amiga e companheira. Ela era a luz e o sol de nossas vidas. Todos, ao seu redor, transbordavam amor por ela. Mesmo com pouco estudo criou um filho professor, uma filha comerciante e um filho agricultor. Teve netos incríveis e sempre declarava o amor. Em seu último momento pediu para segurar nossa mão e disse que nos amava", estas foram as palavras amorosas do “Enviado de Deus”, Gabriel, para sua mãe tão querida.

Aldinar nasceu em Cachoeiras de Macacu (RJ) e faleceu em Cachoeiras de Macacu (RJ), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Aldinar, Gabriel D'Oliveira Florentino. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Ana Macarini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 18 de agosto de 2020.