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Alexander Lépore

1970 - 2020

Gostava de ajudar o próximo, dizia que era gratificante e que seu dever como policial era servir e proteger.

Alemão foi o apelido dado ao menino de pele clara, que passou a infância no bairro do Tucuruvi, em São Paulo, e sonhava um dia ser jogador de futebol. Uma criança feliz, vivendo na época em que as principais brincadeiras aconteciam com os elementos lúdicos disponíveis na natureza: encaçapar bolinhas de gude nos buracos cavados no chão de terra, sentir o vento querendo levar as pipas mais além do que a linha esticava... e foi nessa alegria tranquila que cresceram muito unidos os irmãos Jefferson, Alexander e Kenia, filhos de dona Zaira e do seu Eduardo.

Um tempo depois, foram morar em Carapicuíba. O menino Alexander, que havia crescido livre, não gostava de trabalhar em ambientes fechados e, assim como seu pai, também sentiu o chamado para ser policial. Prestou concurso e começou na Guarda Municipal de Osasco e depois na Polícia Militar. A rua era o seu lugar de prestar serviço.

Apesar de reclamar das condições de trabalho para o exercício da profissão, Alexander sentia orgulho do que fazia, principalmente quando ia em alguma comunidade e as crianças falavam que quando crescessem queriam ser policiais, iguais a ele.

No prédio onde ele morava surgiu uma moça cativante, Elisabete, com quem logo se casou. Pouco tempo depois, foi transferido para São Joaquim da Barra, onde tiveram Ana Julia, sua grande paixão, a quem chamava de “bebê” mesmo quando já adulta. “Ele foi o meu herói, aquele que me colocava pra dormir, que mandava beijo antes de sair pra trabalhar, que adorava discutir comigo porque nunca aceitava estar errado e sempre tinha uma resposta pra tudo. Aprendi muita coisa com ele e vou sempre levar comigo, nunca concordei com tudo que ele pensava, mas muita coisa dele carrego aqui dentro de mim... E se fosse pra escolher de novo, hoje, amanhã ou nos próximos mil anos, quando não houver mais tempo nem matéria, eu o escolheria sempre, eternamente, para ser meu pai”, declara a única filha.

Além de excelente pai, manteve-se também um irmão generoso. A irmã Kenia levará para sempre a memória do dia em que ele a ajudou, sem que ela nada pedisse: “Eu estava passando por dificuldades financeiras, meu marido desempregado, as filhas pequenas, e ele chegou na minha casa, abriu meus armários sem falar nada e foi para o mercado, voltando com uma compra enorme para o mês, além de trazer cerveja para comemorar o aniversário meu esposo”. Aliás, Alexander também era festeiro, palmeirense fanático, amava churrasco e seu maior prazer era uma boa cerveja.

No coração da esposa Elisabete, ele sempre vai ser o melhor marido e o melhor pai: “Fomos unidos por um propósito maior e nossa separação está sendo só uma pausa nos abraços, mas não no amor, pois este foi e sempre será eterno”.

Alexander nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Joaquim da Barra (SP), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Alexander, Kenia Lépore. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Bettina Turner, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 15 de agosto de 2021.