Sobre o Inumeráveis

Alexandre Colpani

1973 - 2021

Gostava de compor paródias divertidas sobre os acontecimentos do dia.

Ele não media esforços para amparar todos que tocavam seu coração, e ele tocou o coração de muitos; por trás daquela aparência de durão escondia-se um ser humano gentil e solidário. Assim era o Alexandre — o Lê —, conta a filha Laura.

Para ele, as coisas nunca foram fáceis: todas as suas conquistas vieram acompanhadas de muita luta; o que não era problema para o Alexandre, que enfrentava suas batalhas com muita coragem: teve uma infância foi difícil, mas, apesar das dificuldades, foi uma criança feliz, que brincava com as duas irmãs. Ele era o filho do meio e bem arteiro: gostava de subir no telhado e saltar de lá, possivelmente deixando todos de cabelo em pé.

Ele tinha 22 anos e sua amada 16 quando se conheceram; e logo no início do namoro veio a surpresa da gravidez. Casaram-se, e a partir daí a família só fez crescer: primeiro veio um menino, seguido da Laura e por último os gêmeos.

Alexandre sonhava cursar Direito, mas, em razão das responsabilidades da vida adulta e por questões financeiras, decidiu fazer Contabilidade. Depois de formado trabalhou durante algum tempo em um banco, como segurança. Aprovado em concurso público para agente penitenciário, assumiu o cargo na Unidade Prisional do Centro de Ressocialização de Mococa, onde se desenvolveu profissionalmente.

O Colpani, como era chamado pelos colegas de trabalho, dava expediente de segunda a sexta, mas não era raro aparecer alguém aos sábado e domingos para falar sobre trabalho. E sempre, mesmo nesses dias de folga, ele se colocava à disposição dos colegas.

Sua relação com os filhos era típica, com desavenças e cobranças comuns, que todo pai atencioso pode ter; mas havia muita confiança e respeito entre eles. Alexandre era um pai presente, que levava os meninos para jogar bola e acompanhava cada passo que eles davam. Sempre atento a qualquer sinal de problema, teve atitude decisiva, ao lado da esposa, quando um dos filhos não esteve bem: além da ajuda profissional que buscaram, adotaram Maia, uma cadelinha que trouxe ainda mais alegria aos habitantes daquele lar tão cheio de amor.

A família não costumava sair muito e com a pandemia ficaram ainda mais caseiros e unidos: nos finais de semana, ele cozinhava: lanches, pizzas e tudo o que fosse gostoso; e quando estava na cozinha, não permitia interferências, mas, às vezes, a esposa dava uma ajudinha básica.

Ele gostava de futebol e diferentemente dos filhos caçulas, que torciam para o Corinthians, Alexandre era santista, igual ao pai dele, mas não acompanhava os jogos. Amava assistir a filmes de ação e odiava que o atrapalhassem durante a exibição. Também detestava ser interrompido durante o telejornal.

Muito sério e metódico, não gostava de bagunça e sempre mantinha as contas e os documentos muito bem organizados. Costumava dizer que quem andasse certo não teria problema nenhum com ele. Tinha pavor de chegar atrasado em compromissos: um constante motivo de briga, pois chegava com pelo menos meia hora de antecedência. Mas apesar de toda a seriedade e da aparência sisuda, ele podia surpreender, compondo musiquinhas do nada, sobre o que estava acontecendo no dia.

O Lê não era de muitas palavras, mas demonstrava seu amor e preocupação com o bem-estar da família nas atitudes diárias, nas pequenas ações e gestos que sabia serem importantes para seus entes queridos. Não deixou de sonhar com o Direito e planejava voltar a estudar depois que seus filhos estivessem formados.

Deixou filhos, irmãos e amigos; deixou a esposa, com quem compartilhou tantas alegrias e com quem completaria vinte e cinco anos de casados; e também deixou Maia, a cachorrinha, a quem não negava um chamego.

Deixa saudades e muitas lições de amor, de resiliência e de fé.

Alexandre nasceu em Mococa (SP) e faleceu em Mococa (SP), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Alexandre, Laura Elidia Colpani. Este tributo foi apurado por Claiane Lamperth, editado por Rosa Osana, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 25 de agosto de 2021.