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Alice Lourenço Cavalcante

1935 - 2020

"Graças a Deus, mais um dia de vida Ele me deu!", dizia toda manhã ao acordar.

Dona Alice era amiga, irmã, esposa, mãe, avó e bisavó. "Era teimosa, temperamental e manhosa, mas com um coração bom. Adorava fazer as vontades dos netos e bisnetos", descreve a neta Priscila.

Na mesa, sempre cabia mais um e o prato de ninguém ficava vazio. Ela amava ter a casa cheia e alegre, dividia o que tinha mesmo quando era pouco. Priscila conta que a família era o orgulho de Alice, ela criou filhos, netos e bisnetos, mesmo sendo simples e com poucos recursos.

Dona Alice tinha pavor de ir ao médico, não queria se expor e ficar contando suas dores, não desejava que a vissem como doente. O receio de ir ao consultório era tanto que a neta relembra um episódio vivido pela avó: "Um dia chegou a obrigar o marido a ir ao médico fingindo que sentia as mesmas dores que ela para saber qual seria o remédio que deveria tomar, mas, como receitaram uma injeção no próprio posto de saúde, ele saiu de lá de fininho e nunca mais aprontaram dessa de novo".

Gostava de ir à igreja e ouvir os hinos, mas nos últimos anos era difícil, pois não conseguia andar direito por causa de um esporão no pé.

"Tinha mãos maravilhosas para plantas, suas rosas eram sempre muito bonitas." Logo depois que o marido morreu, ganhou vasos e sementes para plantar uma pequena horta. Também adorava estampas floridas e bem coloridas.

"Seus filhos e netos nunca deixaram de cuidar e dar carinho a Dona Alice, até o último minuto", ressalta a neta.

Alice nasceu em Capoeiras (PE) e faleceu em Itapevi (SP), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Alice, Priscila Cavalcante de Freitas. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Júlia de Lima, revisado por Otacílio Nunes e moderado por Rayane Urani em 19 de setembro de 2020.