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Alma Izabel da Silva

1951 - 2020

O dia de todos só começava depois da sua animada mensagem de bom dia no grupo da família, personalizada com a sua foto.

Muito amada por toda a família, sua mensagem de "bom dia", chegando no celular de todos, era como uma benção, um sinal de que o dia podia começar e ia correr tudo bem. E quando ela não se manifestava logo cedo era porque alguma coisa estava errada.

O "bom dia" de Alma era sempre animado e cheio de vitalidade, tal qual a própria mensageira que tinha paixão pela vida e por viver.

Um dos lugares em que essa paixão foi mais evidente foi em sala de aula. Alma foi professora da rede pública de ensino e fez do ofício a sua missão de vida. A escolha pelo magistério foi um risco que ela decidiu correr para alcançar seus objetivos. Todos os seus irmãos trabalhavam com vendas, mas ela não queria seguir este caminho. Assim, optou pelo magistério, durante o Ensino Médio, o que lhe abriu portas para ser professora e, mais tarde, cursar o Ensino Superior na área de Educação. Ela foi a primeira de seus irmãos a conquistar um diploma, e sua filha foi ainda mais longe, alcançando o título de doutorado. Suas conquistas eram motivos de muito orgulho para todos da família.

Foi por influência da tia Alma que a sobrinha Liane cursou Pedagogia, seguindo a mesma carreira na educação. "Foi ela quem foi comigo fazer minha matrícula e me acompanhou no meu primeiro dia de faculdade", relembra com carinho Liane.

Mesmo depois de ter deixado de atravessar diariamente o pátio da escola, Alma continuou acreditando que a educação poderia transformar as pessoas e o futuro. "Depois, quando eu comecei a trabalhar na escola, toda vez que eu chegava reclamando de algo, a minha tia dizia: 'Querida, vamos ver o lado bom: tem muita gente que depende do nosso trabalho'", conta a sobrinha.

Ser professora foi a primeira e única profissão de Alma e para a qual ela se entregou por inteiro. A curiosidade de professora era uma marca de Alma que sempre se interessava em conhecer novos lugares e novas pessoas. Tanto quanto aprender e ensinar em sala de aula, Alma gostava das trocas que uma viagem podia oferecer.

As praias do nordeste, com águas azuis, areia clara e coqueiros, eram uma das muitas coisas que faziam um bonito sorriso se desenhar em seu rosto. Além de sorridente, Alma, que se orgulhava dos seus cabelos grisalhos, era uma mulher elegante, sociável e vista como uma liderança por aqueles que a conheciam.

Seus olhos castanhos se encantaram dia após dia com tudo o que observava no cotidiano. Tamanho era esse encantamento pela vida que era natural compartilhá-lo com quem estivesse por perto. Fosse ensinando a irmã a preparar empadão de camarão, fosse falando alto, empolgada com memórias da infância, fosse viajando pelo Nordeste ou sendo professora em sala de aula, Alma fez a vida valer a pena.

Alma nasceu em Itajaí (SC) e faleceu em Itajaí (SC), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Alma, Liane Demarche. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Michele Bravos, revisado por Tatiani Baldo e moderado por Rayane Urani em 8 de junho de 2021.