Sobre o Inumeráveis

Altair Claudino

1962 - 2021

De suas panelas, saíam os mais saborosos e descontraídos feijão tropeiro e feijoada; ele era imbatível na cozinha.

Filho de D. Osvaldina e S. Adílio, nascido em uma família com nove irmãos, sendo eles: Avair, Alceri, Alcione, Denir, Lenir, Mizinho, Neuzir, Nizinha e Zenir; desde sempre se mostrou disposto a ajudar de todas as formas. De seus amados pais, aprendeu a ser uma pessoa honrada, trabalhadora, e nunca deixou de visitá-los sempre que podia. Herdou de sua mãe a aptidão pela dança, e de seu pai a paixão por doces.

Na infância e adolescência, viveu em Cascavel - cidade do Paraná, onde adorava jogar cacheta (um jogo de baralho) junto dos irmãos -, e começou a trabalhar bem jovem como vendedor de sapatos para somar recursos à renda familiar. Ainda na juventude, foi morar em Porto Velho - capital do estado de Rondônia -, para ajudar na criação dos filhos da irmã Lenir, que havia recém ficado viúva. A consideração e carinho com os três sobrinhos: Fernando, Fabrício e Fabiana sempre foi muito grande.

Foi nessa etapa da vida que através do então amigo e futuro cunhado Eugênio, conheceu a esposa Gilda, sua grande companheira de vida. O casal sempre que possível saía para dançar, e não tardaram a constituir família. Tiveram a filha Tamires, que se juntou à filha Evelin, e logo se mudaram para Várzea Grande - cidade da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, estado do Mato Grosso.

Por lá chegando, teve um bar no 'Ponto Final do Unipark', onde passou a ser mais conhecido como Altamir; era muito popular e querido pelas pessoas da região. Foi de um praticante de sinuca "dos bons!", chegando a participar e vencer diversas competições. Trabalhou depois como motorista de caminhão fazendo entregas para uma loja de colchões, e em seguida numa distribuidora na qual além de entregas, exercia funções das mais diversas, sendo o braço direito do proprietário, Hamilton.

Sempre presente e próximo de sua família, era cuidadoso e carinhoso, ao mesmo tempo que ativo, leve e cativante com todos, fosse nos ambientes familiares, no bar ou em outros locais de trabalho. As filhas Tamires e Evelin, juntas, enfatizam: "Ele brincava o tempo todo, estava sempre sorrindo, adorava uma piada", sendo alguns exemplos, diz Evelin: "Bom dia, como vai sua tia?" ; e "Vai procurar o caminhão que você caiu", quando lhe pediam muitas guloseimas. Além disso, tinha uma paciência e tanto, sempre optando por conversar bastante indicando os caminhos certos; era avesso às discussões. Quando nasceu o neto Pedro, foi um amor sem tamanho, fazia questão de dar atenção ao menino e de participar das brincadeiras.

Para os mais íntimos praticava a culinária com maestria, sendo que pra começar o dia nunca podia faltar o cafezinho, que amava e fazia como ninguém. Dentre os pratos que preparava, as maiores especialidades eram o feijão tropeiro e a feijoada, que deixaram saudades. A esposa Gilda, se recorda do humor do marido: "Como eu não tenho o costume de jantar, toda vez que ele preparava algo à noite, era sagrado ele dar a primeira 'garfada' para mim."

Ele também apreciava o peito de frango caipira que a sogra Lindalva preparava e separava para ele, com aval do sogro Arceu que também sempre fazia de tudo pra agradá-lo. Já na sobremesa, se esbaldava com o toucinho do céu, que sua irmã Lenir, fazia.

Apreciava a leitura de jornais e revistas, assistir novelas e também os noticiários na TV; gostava de ir à missa, e também de ouvir uma boa moda de viola. Ficava super feliz ao ver a sobrinha Emmanuelle tocar; a moça é filha do cunhado Eugênio; e uma música marcante que ouvia muito era "Franguinho Na Panela" - de Cézar e Paulinho.

Sempre prestativo, ajudou muitas pessoas pelos arredores de onde morou. Numa época em que poucos tinham carros, ele estava sempre levando vizinhos ao médico e assistências gerais. Uma vez já era madrugada quando socorreu uma vizinha grávida prestes a parir, e neste dia somente o caminhão estava disponível; assim foram para o hospital, tendo dado tudo certo ao final. Não sabia dizer "não", e como trazia muita solidariedade em seu coração enorme, em seu caminhão sempre havia ração para colocar na rua e alimentar os animais.

Altair já veio ao mundo como um batalhador, nasceu prematuro, e com deficiência visual. Como era cego de um olho, lutou muito para viver e para obter as conquistas, que não foram poucas. Nos seus últimos cinco anos de vida, infelizmente veio o diagnóstico de uma doença degenerativa do lobo frontal, que afetou sua rotina drasticamente. Com o tempo, passou a se comunicar e a dizer "Eu te amo" com os lindos olhos verdes, e mesmo contrariando médicos, aprendeu a segurar a mão de uma maneira mais forte e sensitiva, amando ficar de mãos dadas, e se emocionando na presença da família - principalmente perto do neto Pedro -, sendo inclusive sua última fala, demonstrando preocupação e zelo: "Pedro tá na Escola?".

Ele queria muito ver a mãe, e sua família conseguiu propiciar esse momento. E na última visita ao rancho no Lago do Manso - Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, com ele bastante emotivo a família conseguiu fazer coisas que não conseguiam fazia tempo por conta da limitação, como entrar com ele na água, tendo sido um momento de alegria.
Com a esposa Gilda e a filha Tamires sendo enfermeiras, puderam acompanhar de perto e dar toda assistência, em seus últimos momentos.

A filha Tamires, que fez em homenagem uma tatuagem de sua assinatura, afirma: "Ele sempre foi um ótimo pai e um ótimo esposo; um homem trabalhador e sempre feliz e alto astral. Ensinou o sentido da palavra amor de pai, meu pai meu herói!", e depois conclui: "Me fez mais forte do que eu pensava ser. O melhor 'eu te amo' ouvi dos seus olhos; o melhor aperto de mão foi o seu. Então quando já não podia mais falar, ele me olhava de um jeito que nunca tinha me olhado antes e eu sentia todo amor."

Altair nasceu em Urubici (SC) e faleceu em Várzea Grande (MT), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Altair, Tamires Claudino. Este tributo foi apurado por Peter de Souza, editado por Peter de Souza, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 8 de dezembro de 2021.