1931 - 2020
Frágil apenas na aparência, essa mulher cheia de força, amor e sorrisos viveu em função dos que amava.
Amália foi uma mulher guerreira que sofreu demais, mas nunca perdeu o sorriso e a bondade com ninguém. De origem indígena, parecia uma senhorinha frágil; na verdade, porém, era muito forte e aguentou firme todas as adversidades da vida. Livrou-se de um casamento falido e abusivo em uma época que mulher separada não era vista com bons olhos.
Foi a melhor mãe que seus filhos podiam ter, que criou trabalhando na roça. Quando se mudou para a cidade, virou lavadeira de ganho. Era muito querida pelos vizinhos na rua onde viveu por quase toda a vida. Conhecida como Dona Nega, para os filhos, netos e alguns amigos próximos era Mãe Nega. Vivia em função da família e até deixava de se cuidar para o bem daqueles que amava.
Gostava bastante de flores e não deixava ninguém jogar seus arranjos no lixo.
"A melhor lembrança que tenho", conta a neta Juliana, "era ela mandando comprar mortadela na venda quando chegávamos na sua casa, porque a gente gostava só da preparada por ela, parecia a comida mais saborosa do mundo. Lembro dos inúmeros domingos em que íamos almoçar na sua casa, era o ponto alto da semana ir para a casa de Mãe Nega. Na hora da despedida, sempre ia para a porta, dizendo que estava cedo, e acenava até desaparecermos dos seus olhos. Era minha vó, mas nunca a chamei assim. Ela dizia que era mãe duas vezes, que era a mãe com açúcar."
E despede-se: "A dor da saudade sempre vai existir, mas vamos nos lembrar de você com alegria, pois se existe um céu é lá onde você vai estar. Sua existência não vai ser esquecida. Te amamos! Não é um adeus, mas um até logo".
Amália nasceu em Camacan (BA) e faleceu na Bahia, aos 89 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Amália, Juliana Santos Silva. Este tributo foi apurado por Gabriela Veiga, editado por Gabriela Veiga, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 26 de novembro de 2020.