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Ana Cândida de Oliveira

1932 - 2021

Sempre buscou ser a mulher cuja força e independência inspiraram marido, filhos e netos.

Ana Cândida, mais conhecida como dona Nica, foi uma mulher forte, independente e vaidosa. Trabalhou desde cedo como cozinheira em um restaurante e churrascaria. Em casa, preparava “o café mais delicioso e uma lasanha dos deuses" para a neta Vanessa.

As mãos grossas de dona Nica, por enfrentar fogões e geladeiras ao longo da vida, revelavam uma mulher lutadora e orgulhosa da sua independência. Foi casada com seu Vicente, mãe de cinco filhos e avó de 17 netos. Nunca deixou de batalhar junto com o marido para criar e manter a família. Após ficar viúva, aos 64 anos, dona Nica fez questão de morar sozinha, pagar suas contas e comprar suas coisas.

Vanessa conta que sua avó era “(...) austera e doce ao mesmo tempo. Sempre defendia a família dela”. Seus netos Hudson e Vanessa eram suas paixões, seus "luxinhos", como gostava de dizer. A vó Nica nunca negou mimos à neta, que fazia questão de dormir na casa da avó para lhe fazer companhia. “Era maravilhoso. (...) Eu acordava e o café já estava pronto e o pão quentinho em cima da mesa”; Vanessa lembra as palavras de carinho e cuidado de dona Nica, “Não pode sair sem comer nada, minha neta”.

A relação de dona Nica com sua neta Vanessa era tão forte que as lembranças são inúmeras. Vanessa relata que quando era criança morava na casa de cima da de sua avó, e que ela construiu uma escada para que Vanessa pudesse transitar livremente entre as duas casas. Hoje Vanessa mora na casa que fora de dona Nica e lembra com carinho dos momentos maravilhosos que viveu com a avó.

“Eu lembro de vários momentos (...), o dia que matei aula no ensino médio e fui para uma festa e me atrasei. Cheguei pé por pé, tirei os sapatos, abri a porta devagarinho e quando girei a chave ela estava de pé me esperando; - Onde você estava, dona Vanessa?”.

Esposa e mãe amorosa, avó que amava mimar os netos, dona Nica era também uma mulher vaidosa. Amava se olhar no espelho e cuidar da aparência. Certa vez em 2019 precisou ser internada e se deu conta de que não havia espelho no quarto, achou mesmo um absurdo que os hospitais não oferecessem espelhos para os pacientes internados. Então pediu à sua neta que levasse para ela um espelho. Era um item indispensável para passar o batom que tanto gostava. Ela também amava andar perfumada e com a pele macia depois de um banho de creme. A vó Nica tinha seus próprios mimos.

Uma mulher empoderada e independente, que cozinhava a melhor comida do mundo, essa era dona Nica, que será sempre lembrada pela neta pelo seu “amor, força e café maravilhoso”.

Ana nasceu em Oliveira (MG) e faleceu em Oliveira (MG), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Ana, Vanessa Borges de Oliveira. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Bárbara Tenório, revisado por Emerson Luiz Xavier e moderado por Rayane Urani em 11 de junho de 2021.