1990 - 2021
Apaixonada por girassóis, fez questão de ofertar essas flores em sinal de gratidão.
A mais velha de três irmãos, Ana Carla não media esforços para ajudar a mãe, Maria Terezinha, os irmãos Cléber e Gabriela, grandes parceiros das travessuras na infância. Mas não era só a família que ela ajudava. Carinhosa, estava sempre disposta a estender a mão e oferecer um ombro amigo para quem precisasse.
Batalhadora, realizou o sonho de formar-se em Direito, profissão pela qual tinha grande paixão. Acalentava planos de tornar-se delegada. Certamente queria continuar ajudando o próximo, também por meio de seu trabalho.
Gostava muito de ir a festas, às quais não podiam faltar petiscos como azeitonas, salame e, como boa mineira, queijo. Melhor ainda se fosse ao som de “Dormi na Praça", sua música favorita, na voz de seus ídolos, Bruno e Marrone. Também gostava de tomar cerveja, até mesmo na casa da avó. "A gente chega na casa da vó e recebe uma cerveja, saúde!", ficou o registro, em vídeo, da alegria de Carla. Brincalhona, chamava a bebida de sua “suveja”. Tinha sempre um sorriso no rosto, mesmo quando a vida se mostrava mais dura. Era dona de uma gargalhada escandalosa, gostosa de ouvir.
Apaixonada por girassóis, seu último pedido foi que cada um dos enfermeiros que tivessem dedicado cuidados a ela recebesse um. Seu amigo de infância Sady carrega na pele a homenagem à amiga, em uma tatuagem de girassol acompanhada da frase “Você sempre”, ao lado de um lírio em homenagem à mãe de Sady, que também partiu. Ele guarda também inúmeras memórias alegres e engraçadas, como a implicância de Carla na época da escola, destruindo as tampas de suas canetas. Ou sobre a famosa gravata vermelha, presente dado por Carla de que Sady não gostou. A amiga, de brincadeira, obrigou Sady a usá-la mesmo assim.
Diz o texto que Sady publicou em redes sociais em homenagem a Ana Carla:
“É assim que irei me lembrar de você, com um sorriso no rosto, alegre e sempre disposta a ajudar. Não havia tempo ruim com você. Nos tempos de escola pegava no seu pé, te provocava e confesso: não ia com a sua cara. O tempo passou e essa implicância foi se tornando algo diferente, o sentimento foi mudando e nasceu daí uma amizade tão grande que nos tornamos confidentes. Você, sendo mais nova, tomou meu lugar de irmão mais velho, os papéis se inverteram; em vez de eu te dar conselhos e puxões de orelha, era você que estava fazendo esse papel. Quando a vida me deu dois baques de achei que não iria me levantar, quem estava lá pra me ajudar? Você, claro. Tínhamos as ideias mais absurdas, fazíamos os mais estranhos planos, tínhamos gostos diferentes e opiniões adversas, mas sempre respeitávamos um ao outro. Lembro da última vez que eu te vi, você irradiava felicidade porque estava realizando o sonho de fazer Direito. Te contei que também iria realizar o meu, que era ir morar fora. Prometemos não nos afastar e sempre mantermos contato, mas isso não aconteceu. A correria do dia a dia não nos permitia isso, mas saiba que eu estava ali torcendo por você e vendo você conquistar, a cada dia, o seu sonho. Seguimos caminhos e rumos diferentes, mas eu sempre me lembrava de você. Quando fiquei sabendo que nunca mais iria te ver meu dia escureceu, fiquei triste, confesso que chorei a sua partida. Mas também estou feliz em saber que está em um lugar bem melhor. Irei sempre me lembrar de você com um sorriso no rosto e cheia de vida, sua 'poia' - era assim que eu te chamava. Sentirei saudades, minha amiga, companheira e irmã, não de sangue, mas de coração. E irei sempre me lembrar de você. Descanse em paz e que Deus te dê um bom lugar.”
Ana nasceu em Guanhães (MG) e faleceu em Ipatinga (MG), aos 30 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo amigo de infância de Ana, Sady Junio Medeiros. Este tributo foi apurado por Débora Alves Cabrita, editado por Marília Ohlson, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 26 de agosto de 2021.