Sobre o Inumeráveis

Ana Geni Ferreira dos Santos

1944 - 2021

Gostava de "fazer boa figura", por isso estava sempre maquiada, mantinha as unhas feitas e amava acessórios.

Ela foi mãe dedicada para os três filhos, Amauri, Roseli e Silmara. Avó estimada dos cinco netos, Marcella, Gabriela, Francisco Mariano, Andria Mariana e Marcos Daniel, e a bisavó do pequeno Lucas.

Trabalhou como doméstica desde pequena, sempre na informalidade. Não tendo registro em carteira, não conseguiu se aposentar. Apesar de estar há muitos anos separada, Ana levou seu ex-marido para morar com ela e sua filha, por ele ter a saúde muito debilitada, podendo assim auxiliar em seus cuidados diários.

Quando criança, Ana era muito apegada a seu pai. Mulher reconhecida por sua fé, costumava passar horas rezando, por cada um de seus familiares. Criou as duas netas, para ajudar as filhas enquanto ambas trabalhavam. As meninas passavam o dia todo com ela quando eram crianças. "Lembro que quando eu era pequena e estava na casa dela queria que ela fizesse mingau de bugre: farinha, água, alho e sal. Dormíamos juntas e ela brincava de ‘grosso e fino’ nas minhas costas”, conta Marcella.

Vaidosa, fazia permanente no cabelo e não deixava nem um fiozinho branco. “Ela sempre guardava um dinheirinho pra comprar perfumes e cremes para rugas e para o corpo. Ficou anos sem tirar fotos, porque se achava feia nos registros. Consegui convencer a tirar algumas no meu casamento, em 2014. Ela alugou um vestido, foi ao salão de beleza, se maquiou e gostou das fotos e a partir dali, pegou gosto", relembra, Marcella. “Ficou até o final da festa, dançando e se divertindo com todos".

Ana amava as revistinhas do Tex e assistia a muitos vídeos em sites de compartilhamento. Fazia a neta colocar na TV, já que ela mesma não sabia, e passava horas ali assistindo. Gostava demais de filminhos de terror e não largava seu chimarrão: desde cedo, levantava-se para tomar.

Sempre muito ativa, fazia suas caminhadas, ia aos bailes da terceira idade, dançava. “Até conheceu um senhor incrível, com quem começou a se relacionar, mas infelizmente ele adoeceu e foi morar com a filha, em outra cidade”, conta Marcella.

Ana amava ir à Curitiba visitar a neta e o bisneto, por quem era apaixonada. "Sempre me ligava para conversarmos. Ela me chamava de Lela e perguntava do ‘neguinho’, o seu jeito carinhoso de chamar o Lucas", conta Marcella.

Difícil expressar em palavras o que Ana representou para a família e para as pessoas que tiveram o privilégio de partilhar do seu amor e da vida ao seu lado.

Ana nasceu na Lapa (PR) e faleceu em Campo Largo (PR), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Ana, Marcella Cunha Bueno. Este tributo foi apurado por Luma Garcia, editado por Luma Garcia, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 14 de fevereiro de 2022.