Sobre o Inumeráveis

Ana Gleide Correia Pinho Kinippeberg

1969 - 2021

Formada em Letras, possuía literalmente o dom da palavra: em tudo o que se comprometia, devotava-se por inteiro.

Ana Gleide, a segunda filha de Roberto e Maria Hilda, nasceu em Acopiara, no Ceará, no dia 11 de julho de 1969, em um dia muito ensolarado. Sua mãe relata que chegou ao hospital às 19 horas e uma hora depois já estava com sua amada filha nos braços — Ana Gleide sempre teve uma imensa sede e pressa de viver. Ainda criança, mudou-se com seus pais e sua irmã mais velha para São Paulo, na tentativa de melhores condições de vida. Algum tempo depois, vieram residir em Peabiru, no Paraná e, em sua juventude, foi para Maringá, onde se graduou em Letras pela Universidade Estadual de Maringá. E é precisamente por essa razão que falar de Ana Gleide se torna um desafio, uma vez que era ela quem possuía o dom de transformar sentimentos e ações em palavras.

O casamento com Wilson Ângelo foi realizado em 1992. O casal teve três filhos, Nathália, Thiago e Carolina. Wilson escreve: “Abdicando de sua carreira profissional para investir em seu lar e na educação de seus filhos, Ana Gleide fez da maternidade seu ofício, construindo, então, uma linda família, da qual cuidava com muito zelo e amor. Sentava-se com os filhos para realizar tarefas escolares e, sempre muito bem-humorada, inventava canções com regras gramaticais para tornar o aprender mais dinâmico: ‘antes de p e b, é m que vou escrever’”.

O marido testemunha: “Tamanha dedicação pode ser observada na trajetória acadêmica e profissional de seus filhos. Nathália, a primeira filha, é graduada em Secretariado Executivo Trilíngue e vê sua mãe como sua primeira professora. Em suas palavras ‘foi com ela que aprendi as coisas básicas para que um ser humano sobreviva e também aprendi sobre o amor ao próximo, a entrega e a bondade. Isto se transmitiu na minha escolha de me tornar professora, sempre inspirada na melhor mestra que tive: minha própria mãe. Durante minha vida acadêmica, ela sempre esteve à disposição para ajudar em qualquer ocasião; mesmo que não soubesse o que precisava ser feito, sabia que se ela se mostrasse confiante, eu me sentiria confiante também’.

Thiago, advogado já há alguns anos, diz que "minha mãe é meu maior orgulho, exemplo de vida e a pessoa mais caridosa que já conheci. Ela esteve presente em minha vida desde os meus primeiros passos e me ensinou a praticar a caridade, o amor, carinho e o perdão — princípios cristãos que me impulsionaram a cursar Direito. Sei que hoje ela está ao lado de Deus Pai, olhando e cuidando de mim lá do Céu. Ela é o exemplo de fazer o bem sem esperar nada em troca, já que fazia tudo por carinho, devoção e amor ao próximo’.

Carolina, a caçula, tornou-se psicóloga e, assim como seus irmãos, vê sua mãe como sua maior e melhor mestre: ‘Minha mãe foi o meu primeiro amor e foi com ela que eu aprendi a valorizar as pessoas e suas histórias; foi com ela que aprendi que uma vida sem estar em paz com o outro não é uma vida que vale a pena viver. Ela me escutava falar sobre Freud como se fosse o que ela mais amasse na vida e, ainda que não soubesse, isso me motivava. Ela partiu antes de minha atuação profissional e todos os dias eu espero que ela possa ver o quanto carrego dela comigo em cada vida que encontro pelo meu caminho’.

Ainda que houvesse se distanciado de sua carreira profissional, deu aulas de redação gratuitas durante um período de sua vida para jovens vulneráveis em período de provas vestibulares, devolvendo-lhes a esperança e a confiança. Também foi, em sua juventude, a cabeça de um projeto que construía moradias habitacionais na cidade de Maringá”, conta o marido.

Foi uma filha, irmã, mãe, professora, madrinha e amiga dedicada e zelosa, cuidando de todos com muito amor e carinho. Empatia e doação costumavam ser seus sobrenomes, uma vez que colocava o bem-estar de todos como mais importantes que seu próprio bem-estar. Por essa razão, Ana e o marido sempre participaram de movimentos dentro da Igreja Católica, onde Ana Gleide teve destacada atuação como catequista, liderança da Pastoral Familiar e do Encontro Matrimonial Mundial. “Era carismática e possuía um jeito todo especial de ser, que fazia com que todos gostassem muito de sua companhia. Nos últimos anos, também estava brindando com sua presença as atividades do Albergue da cidade de Maringá”, conta Wilson.

“Por onde passava espalhava amor, bondade e doação. Era uma pessoa sem vaidades, humilde e muito temente a Deus. Fazia caridade sem aparecer e sem esperar nada em troca, tanto que, sentindo-se bem em ajudar o próximo, foi cuidar de seu cunhado no hospital, onde acabaram se contaminando. Deixou neste mundo um legado de amor ao próximo, de doação e partilha. Teve uma partida triste e precoce em consequência da Covid-19. Seus familiares e amigos a guardam com muito amor no coração, recordando-se dela em todo e qualquer momento. Nossa prece é para que Deus cuide da nossa Ana com o mesmo amor que ela cuidou de nós”, enfatiza Wilson Ângelo no testemunho sobre a companheira da sua vida.

Ana nasceu em Acopiara (CE) e faleceu em Maringá (PR), aos 51 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo marido de Ana, Wilson Ângelo Kinippeberg. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 28 de fevereiro de 2023.