1937 - 2020
Sua casa era o ponto de encontro da família. Ela recebia todos com um sorriso no rosto e panelas no fogão.
Ana Maria nasceu no interior da Bahia, em uma cidadezinha na serra chamada Palmeiras. Teve uma infância simples mas muito feliz, nadando em riachos e comendo frutas direto do pé.
Aprendeu a costurar na adolescência para presentear os irmãos e sobrinhos com roupas. O capricho era tanto que, mais tarde, essa acabou virando a sua profissão. Com sua inseparável máquina de costura, dona Ana fazia desde peças simples a vestidos de noiva impecáveis.
Casou-se aos 21 anos com Enedino José da Silva, com quem teve oito filhos. Em fevereiro de 1971, foi para São Paulo em busca de tratamento para um de seus filhos, o Paulinho, que faleceu dois meses depois com apenas 1 ano de idade. Foi o momento mais difícil da vida de dona Ana e, por não querer voltar à Bahia sem seu filho nos braços, resolveu ficar definitivamente em São Paulo.
Apesar de ter estudado somente o primário, sabia ler, escrever e fazer contas como ninguém. Valorizava muito os estudos e fez questão de manter todos os filhos na escola, incentivando-os a se formar. "Costurava dia e noite para que seus filhos pudessem estudar e para não lhes faltar nada", conta a neta Karen.
Aos 53 anos, ficou viúva e seguiu a vida ao lado dos filhos, sobrinhos, rodeada de amigas e cultivando as mais diversas plantas no quintal de sua casa. "Sempre que podia, pegava uma mudinha diferente para plantar." Ao longo dos anos, viu seus filhos terminarem os estudos e se casarem, logo tornou-se avó de sete netos e bisavó de dois meninos.
Dona Ana estava sempre com os cabelos bem arrumados e as unhas bem feitas. Bastante conhecida no bairro, gostava de ficar na varanda da casa, conversando com as vizinhas e vendo o movimento da rua. Aos sábados, ia à missa com as amigas da igreja.
Muito independente, adorava passear e viajar. A neta conta, também, que ela gostava de ir à praia e quando entrava na água do mar dizia que não tinha graça ficar no rasinho. "A gente sempre tinha que ficar de olho porque senão ela ia para o fundo sem medo", relembra.
Era uma cozinheira de mão cheia. A receita mais pedida era o feijão-de-corda e, no Natal, o pernil era sua especialidade. Com sua alegria de viver, contagiava todos ao seu redor conversando, contando histórias e cantando músicas antigas. "Sua vida nunca foi fácil, mas com seu jeitinho fazia tudo parecer muito leve", diz Karen, afirmando que foi assim até o seu último momento: "Ela partiu com um semblante sereno, transmitindo amor e paz."
"Dona Ana, vó Ana ou tia Ninha, a varanda agora está vazia — e que falta faz você ali! Queria que a senhora soubesse que aquela nossa música nunca fez tanto sentido quanto agora, minha vó querida, e é com ela que termino essa homenagem: 'Faz tempo que não te vejo, ai que saudade d'ocê...'", despede-se a neta.
Ana nasceu em Palmeiras (BA) e faleceu em Guarulhos (SP), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Ana, Karen Ricco. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Júlia de Lima, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 13 de setembro de 2020.