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Anamir de Castro Azevedo

1932 - 2020

Uma mulher vaidosa, hospitaleira e radiante que gostava de usar batom, anéis e colares.

Quando jovem, Dona Anamir era uma menina muito quieta e respeitosa com seus pais, tão educada que isto lhe valeu o apelido de “Santinha”. Mais tarde, quando adulta, chamavam-na por Santa e, com o avançar dos anos, tornou-se a “Dona Santa”.

Tinha algumas manias. Uma delas era ficar na área de sua casa vendo as pessoas e os carros passarem; outra, era dizer que estava partindo desse mundo “Desde quando me conheço por gente”, mas, no fundo, tinha era muita vontade de viver. Foi uma guerreira que venceu um tumor no pulmão e diversas embolias pulmonares.

Era muito batalhadora e fazia o impossível para cuidar e colaborar no sustento dos filhos desde pequenos.

Dona Santa foi casada com o “Seu” Severino que saiu da Paraíba para trabalhar em uma ferrovia no distrito de Triunfo, em Barra da Estiva ─ de onde ela era natural. Quando ele a conheceu, casou-se com ela, tiveram filhos e nunca mais ele retornou para a Paraíba. Tiveram uma convivência boa e saudável!

Gostava muito de ter todas as pessoas perto de si e, com isso, tornou-se a matriarca de uma família com nove filhos ─ todos nascidos na Bahia, mas que buscaram uma vida melhor em São Paulo e por lá ficaram. Os netos eram tantos que já nem era mais possível contar; teve até tataranetos. Chegou a conhecer quase toda a sua descendência, menos um bisneto que nasceu depois de sua partida.

Amava as reuniões em sua casa; os familiares, sempre que podiam, saíam de suas cidades e iam se juntar a ela. Quando recebia a visita dos que vinham da Bahia e até da Argentina para visitá-la em São Paulo, esperava ansiosa e alegre. Queria todos os filhos por perto.

Falando em Argentina, ela amava ir a Buenos Aires, cidade para onde se mudou uma tia. Lá, ela amava visitar os pontos turísticos, em especial a Puente de la Mujer. Seu sonho era morar lá, mas ele não se realizou, pois sua vida foi construída no interior de São Paulo e, portanto, sempre precisava voltar para lá.

Depois que foi morar em São Paulo, Dona Santa retornou poucas vezes à Bahia. Sua última viagem para a terra natal parece lhe ter sido muito gratificante. Fez questão de rever toda a família. Dava para ver no seu rosto o encantamento e a alegria em rever a terra onde nasceu, onde ainda moram alguns familiares e amigos e, também, onde criou alguns de seus filhos.

Fez questão de tirar fotos de tudo e de todos, parecendo estar se despedindo ou então querendo levá-los consigo em seu coração e sua memória.

Anamir nasceu em Barra da Estiva (BA) e faleceu em Nova Granada (SP), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo neto de Anamir, Matheus Azevedo. Este tributo foi apurado por Patrícia Garzella, editado por Vera Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de março de 2022.