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Anderson Magalhães Serpa

1980 - 2020

Do teatro à fazenda: um líder iluminado com projetos ousados que veio à terra para construir.

Anderson nasceu em Recife, mas construiu sua vida em Maceió. Teve uma infância dura, às vezes tendo só salsicha e farinha para comer com os dois irmãos, João e Sheyla. Talvez esses perrengues tenham nutrido um sentimento insaciável de crescimento e abundância, pois, já adulto, não gostava de ver nada parado. Sua vida sempre foi movida por projetos ousados, o que felizmente permitiu-lhe deixar um negócio estabelecido de criação de ovinos nas mãos da esposa Raíssa e da filha Clara Tayni, assim como do seu grande amigo e sócio Rafael.

Ainda muito novos, Anderson e Rafael decidiram criar carneiros para abate de carne num terreno minúsculo da região metropolitana de Maceió. Aos poucos o negócio foi crescendo e eles então passaram a criar não para abate, mas para melhoramento genético. Foi aí que nasceu o Dorper Vila Nova, hoje com canal em plataforma de compartilhamento de vídeos, em que Anderson e Rafael conseguiram construir uma comunidade de criadores de ovinos por todo o Brasil. O terreno minúsculo se transformou em uma fazenda com animais premiados.

A perda de Anderson foi sentida por criadores de outros estados que só tinham interagido com ele poucas vezes em aplicativos de mensagens. “Isso só mostra a luz e grandeza que ele tinha como pessoa”, relata Rafael.

Em paralelo à vida de fazendeiro, Anderson também conquistava a juventude alagoana nas salas de aula do Cepa, onde atuava como professor de artes. Era chamado de Fininho pelos alunos de forma jocosa, pois era um homem com sobrepeso. Não havia uma pessoa sequer na escola estadual José Silva Camerino que não sorrisse com o jeito alegre do professor. Alunos, colegas professores e funcionários em geral o adoravam.

Anderson também teve uma breve carreira como teatrólogo. Com o espetáculo “Camisa de força”, ele conseguiu dar vazão a sua expressão artística ao retratar de forma catártica a relação freudiana entre mãe e filho. A peça foi levada a Curitiba e recebeu vários elogios, incluindo a descrença preconceituosa de que o espetáculo vinha de Maceió, como se os artistas da capital alagoana não fossem capazes de produzir algo daquele nível. Anderson, porém, ria de tudo isso e se orgulhava muito do seu espetáculo único.

Sua filha de apenas 7 anos, Clara Tayni, é quem conforta os amigos e familiares quando a dor da saudade aperta. “Eu sei que é só olhar pro céu e ver uma estrela bem gordinha, eu sei que é ele que tá ali”, explica a pequena. Estrela ou não, Anderson continua a emanar sua luz sobre todos que amava e todas as suas criações prósperas.

Anderson nasceu Recife (PE) e faleceu Maceió (AL), aos 40 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo amigo e sócio de Anderson, Rafael Cavalcanti. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Luiz Henrique Barroso de Carvalho, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 18 de julho de 2020.