Sobre o Inumeráveis

André Luis Nogueira

1973 - 2021

Idealista, sonhava e lutava por um mundo sem fome, desigualdade social ou preconceito.

André foi um leitor voraz. Ele “devorava” livros, como conta a irmã Andrea. Apaixonado por História, escolheu a docência como profissão. Dono de um coração enorme, usou seu conhecimento para lutar por um mundo melhor, se engajando em causas sociais.

A sobrinha Vitória, que conviveu com André quando criança na casa de seus avós, construiu uma ligação muito forte com o tio, baseada na paixão de ambos pelos livros. Compartilhavam ideias sobre poesia, filosofia e ciências. Vitória, segundo Andrea, era a única pessoa que entrava no mundo fechado dele, já que André era bastante introspectivo. E ele era a única pessoa que a entendia perfeitamente no peso que é viver.

Vitória escreveu uma linda homenagem ao tio:

"Quem via sua cara fechada, que inclusive eu herdei, não via seu coração cheio de bondade. Quem via seu jeito quieto não imaginava sua mente cheia de ideias revolucionárias. Quem via suas poucas palavras não via o tanto de livros que você leu e me incentivou a ler. Quem via suas dificuldades não via a felicidade que você trouxe para nossa família. E quem me via irritada com você não via que tínhamos muito mais momentos de amizade do que de desavenças. Queria ter tido mais tempo. Queria ter visto você velho, ainda mais rabugento do que quando novo, com o cabelo inteiro branco. Queria que você, que tanto me incentivou a gostar de ciência, me visse me formando em Medicina e compartilhasse uma cerveja comigo na minha formatura. Queria ter dado o último abraço, que guardei para um futuro sem pandemia, abraço esse que vai ficar na minha imaginação para sempre. Mas, infelizmente, a vida não é como queremos. Não terei meu tio velho e mal humorado, bebendo feliz na minha festa de formatura. Não terei o abraço que desejei por um ano. Não te terei mais comigo. Mas o que terei é a certeza de que você vive em mim. Você não teve filhos, mas me sentia filha sua. E sinto você em mim em cada livro do Bukowski que leio, em cada sentimento revolucionário, em cada filme de nerd e até nos meus momentos de cara fechada. E sentirei você quando eu me formar e seguir a carreira científica que você incentivou e usar do seu legado para criar um mundo melhor. Em algum lugar do tempo, ainda sou uma criança de sete anos te enchendo o saco e não deixando você ver TV. Em algum lugar do tempo você está vivo e me querendo bem. Te guardarei na memória assim. Obrigada por tudo e te amo para sempre.

A sobrinha finaliza sua homenagem com um texto de um dos escritores preferidos de André:

“Se eu nunca ver você de novo
Eu sempre vou levar você
dentro
fora

na ponta dos meus dedos
e nas bordas do meu cérebro

e em centros
centros
do que eu sou do
que restou.”
Charles Bukowski

André faleceu poucos dias após o irmão Márcio. Foram vítimas de uma nova doença, mas também daqueles que zombaram da ciência. Seus ideais de um mundo melhor e mais justo ficarão marcados em sua família.

André nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Poá (SP), aos 48 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de André, Andrea Dinorah Nogueira. Este tributo foi apurado por Rafaella Moura Teixeira, editado por Marília Ohlson, revisado por Elias Lascoski e moderado por Rayane Urani em 19 de novembro de 2021.