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Andréa Lúcia Inocencio

1974 - 2021

Autêntica, viveu a vida intensamente, curtindo os filhos, as micaretas e a companhia indispensável de Alessandra.

Andréa Lúcia vivia intensamente cada momento de sua vida com toda força e coragem que cabiam dentro dela. Uma mulher menina que aprendeu a carregar desde cedo para todo lugar seus sonhos e projetos; era uma mulher justa, lutava suas batalhas e não omitia suas lágrimas. Era valente diante das dificuldades e não deixava que os infortúnios roubassem sua alegria ou fizessem seu amor pela família diminuir.

A irmã Alessandra considera impossível desconectar a vida de Andréa Lúcia dos momentos que viveram juntas desde a infância. A diferença de idade entre as irmãs era de apenas 11 meses, foram batizadas na igreja católica juntas e fizeram sua primeira comunhão no mesmo dia. Eram inseparáveis! As irmãs Inocêncio vestiam roupas iguais, brincavam e brigavam, e quando chegou a hora de experimentar o sabor do vinho nenhuma arredou o pé, tomaram juntas.

“A gente ia para a piscina de ondas que existia em Brasília juntas, nas férias a gente ia pra chácara. [...] Quando adolescentes aprontamos tudo juntas... A Andréa era mais pra frente e eu, mais reservada; ela era a proteção em pessoa, tinha um coração enorme, gostava de um bate-boca... Mas, no final, ficava tudo bem" relembrou Alessandra.

A parceria entre as irmãs atravessou a infância, resistiu às turbulências da adolescência e permaneceu firme quando o romance de Alessandra transformou-se em um belo casamento. “Na fase da juventude eu me casei e a Andréa continuou vivendo intensamente. Namorava, viajava muito, mas o meu casamento não nos afastou... Toda nossa história foi vivida juntas. Na minha gestação e na gestação dela, estávamos sempre juntas... Aqui em casa era um quarteto de mulheres: Minha mãe, Ana Cláudia, a irmã mais velha das mulheres e nós duas, nós quatro comandávamos um exército masculino aqui em casa."

A fase adulta trouxe outros desafios que não foram fortes o suficiente para separar as irmãs Inocêncio; elas possuíam mais do que memórias juntas, também partilhavam da mesma franqueza e o hábito de dizer sempre a verdade. Duas características que consideravam ser o bem maior que alguém pode ter. Com a partida de Andréa Lúcia, Alessandra sentiu como se metade dela tivesse ido junto com a irmã.

Ser mãe reforçou as qualidades de Andréa, ela era como uma leoa destemida, não tinha medo de nada e sentia pelos seus filhos o mesmo amor incondicional que sentia por sua mãe. Andréa Lúcia gerou um casal de gêmeos Mateus e Mariana, e depois nasceu Pedro. Nutria também um sentimento enorme por seu único irmão homem, o Nino, que certa vez fraturou a tíbia e ficou impossibilitado de colocar o pé no chão por cinquenta e seis dias, e ela o acompanhou nesse período a todos locais onde foi necessário levá-lo. Andréa deixava o amor que carregava no peito transparecer em suas atitudes.

Ela se dava bem com todos os familiares, mas havia algo especial na relação que possuía com os primos Eliane e Dudu, dois integrantes do grupo de pessoas que viajava junto dela para as micaretas da vida. “Ela era uma grande fã do Bel Marques, o cantor do Chiclete com Banana e onde tinha axé, tinha a Andréa e, onde tinha a Andréa, tinha amor, amizade, proteção, alegria!”, conta Alessandra.

Além da força e valentia, era uma mulher muito inteligente. Completou o Ensino Médio, fez cursos profissionalizantes e tornou-se uma excelente corretora de imóveis. Sabia vender como ninguém, conquistava seus clientes e sempre fazia o melhor! Alessandra relembra as palavras da irmã: "Eu faço o meu melhor e procuro em cada imóvel, o sonho de uma vida todinha dos meus clientes".

Andréa era uma mulher muito bonita, não passava despercebida aos olhos de ninguém e chamava atenção onde fosse, seja por sua beleza ou pelos seus dons: encoraja quem estivesse à sua volta, despertava sorrisos com as suas palhaçadas e animava as festas agindo como uma apresentadora. Vaidosa, colocava cílios postiços, unha de gel e se maquiava muito bem. Detalhes que faziam brilhar todas as qualidades dela.

Dentre os sonhos nutridos por Andréa estava o de voltar ao peso ideal, objetivo que não conseguia alcançar e que a deixava triste às vezes. Também não foi muito feliz com seus namorados, mas teve seus momentos de alegria. Quando estava namorando ela era animada do mesmo jeito e não abria mão das reuniões de família, de ir à igreja, ao pagode e ao Axé. E mais uma de suas características marcantes era gostar muito de comer, principalmente doces e de tomar sua cervejinha.

“Andréa me chamava de Bruxa. Era Bruxa para cá, Bruxa para lá. 'Bora ali escovar meu cabelo Bruxa', 'Tá fazendo o que Bruxa?', esse era o jeitinho carinhoso dela de me chamar", conta Alessandra. Hábito que o Yan, menino de três anos e filho de uma amiga, pegou "Ele só me chama de Tia Bruxa", conta Alessandra que se despede afirmando "Minha amiga, minha confidente, parceira de uma vida, dos sorrisos largos às lágrimas, e brigas, e tudo que a vida proporcionou para nós duas. Sem ela a casa e o coração ficaram repletos de saudades e sem festa."

Andréa nasceu em Brasília (DF) e faleceu em Brasília (DF), aos 46 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de Andréa, Alessandra Inocêncio. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Vera Dias, revisado por Claiane Lamperth e moderado por Ana Macarini em 6 de janeiro de 2022.