1962 - 2020
Convicta, sempre dizia: “Se eu partir, estou preparada, pois Deus sabe de todas as coisas”.
A trajetória de Ângela foi atravessada pela luta de uma mãe que também foi pai para Aline, Jonas e Leonardo; e que, mais tarde, se tornou mãe novamente, de Caio, Felipe e Julia, os netos que estimava como se fossem seus próprios filhos. Não é exagero dizer o quanto Dala, como também era conhecida, se dedicava para que o bem-estar de seus netos estivesse sempre garantido: até se passasse um vento mais frio, lá estava a avó inquieta se preocupando em prover até uma roupa mais quente para os netos.
Mas não precisava ser um familiar para que esse caloroso amor que Ângela tinha aos montes se revelasse, era assim com amigos e conhecidos também. Era movida a ajudar quem estava ao seu lado, independentemente de quem fosse: ela fazia com o maior senso de realização. Essa atitude de Ângela tinha raízes nos princípios que ela levou consigo na vida; foi uma mulher de muita fé e se orgulhava em dizer que vivia para Deus antes de todas as coisas.
Era linha dura com a limpeza, não tolerava muita bagunça e, sobrava até para a filha Aline ouvir sobre a própria casa quando a mãe ia visitá-la. Mas nem por esse jeito próprio dela, de querer tudo em ordem, considera-se que Ângela foi alguém difícil de lidar. Para Aline, o papel de mãe se misturava, pois ela parecia mais ser uma amiga. Confidente de segredos, incentivadora de sonhos e tantas outras virtudes se fizeram presentes em Ângela, que também era chamada de "florzinha" e "princesa" pela filha.
Ela esteve presente quando a filha precisou fazer um procedimento cirúrgico. Foi a primeira pessoa que Aline avistou. Do início ao fim, as palavras da mãe eram de positividade e confiança de que tudo iria correr bem. Nos cuidados posteriores à cirurgia, lá estava Ângela, dedicada e providenciando tudo que Aline necessitava para a recuperação.
Intermediada pela enfermeira que cuidou dela enquanto enfrentava a Covid, Ângela que não media esforços para demonstrar carinho, ligou e mandou carta para dizer que tudo iria acabar bem, e que logo receberia alta. Apesar de querer prolongar a vida entre aqueles que amava, sempre será lembrada por ser uma mulher que vivia preparada para sua partida. Esse sentimento pertencia a ela, que acreditava e sempre dizia que “Deus sabe de todas as coisas”.
Deixou um companheiro de dezessete anos de estrada, o José Pedro.
Mesmo que saudosos da presença, do amor e do carinho de Ângela, quem cruzou o caminho dela sabe o quanto era inabalável sua confiança no invisível.
Ângela nasceu em São Bernardo do Campo (SP) e faleceu em Guarulhos (SP), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Ângela, Aline Cristina de Oliveira da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 22 de outubro de 2020.