Sobre o Inumeráveis

Anna Carolina de Carvalho

1985 - 2021

Dizia que não devemos odiar ou guardar rancor, e que, por mais difícil que seja, devemos sempre perdoar.

Carol era uma pessoa muito alegre, dona de duas covinhas que emolduravam seu sorriso.

Filha do Marcos e da Messias, era irmã da Wilminha e do Júnior. Levava uma vida tranquila com o marido Felipe, e para o filho Miguel era a melhor mãe do mundo. Miguel era tudo na vida de Carol, e a convivência entre os dois era linda de se ver. Tinha muita paciência para conversar e ensinar, e nunca gritava com o filho porque achava que isso não resolvia. Era delicada não só ao cuidar, mas também ao evitar palavras que pudessem machucar o filho ou as demais pessoas. Sabia dialogar e respeitar os sentimentos do próximo.

Carol dedicava tempo especial para brincar com Miguel, entrava em suas histórias e viajava junto na imaginação dele. Por isso, ele se tornou um menino educado, calmo, inteligente, esperto e que sabe conversar muito bem, recompensando os esforços da mãe e o seu desejo de sempre fazer o melhor por ele.

Era cheia de vida, com muitas habilidades diferentes e bastante criativa. Sabia fazer de tudo. Se não soubesse, dava um jeito de fazer mesmo assim. Cozinhava maravilhosamente e estava sempre cheia de disposição para o que desse e viesse, procurando ensinar que mágoas e rancores não devem ser cultivados.

Viveu uma infância muito feliz e bem aproveitada. Amava ter outras crianças por perto e, desde pequena, destacou-se no que de melhor fazia na vida: juntar pessoas! Onde houvesse uma turminha, lá estava ela. Era feliz fosse num grupinho de meninas ou em meio aos meninos no campo de futebol.

A mãe de Carol conta muito emocionada o quanto ela sabia ser especial. Quando ia à sua casa, já descia do carro falando “Cadê a minha gordinha?”, usando o apelido carinhoso que destinava à mãe.

E essa alegria tão natural e espontânea Carol carregou por todos os lugares onde passou, inclusive nos ambientes profissionais, aos quais chegava já fazendo festa, contagiando a todos durante a jornada de trabalho e até depois.

Não conseguia deixar ninguém triste ao seu lado. Os colegas do SEST/SENAT, seu último local de trabalho, são unânimes em afirmar o quanto ela os marcou e lhes deixou boas recordações.

Minutos antes do nascimento do filho Miguel, Carol disse à mãe: “Não quero rosas. Arruma um girassol para mim, quando eu voltar quero um girassol”. A mãe, então, saiu ao redor da maternidade a procurar as flores preferidas da filha. Apesar de todo o esforço, só achou margaridas.

Quando Anna Carolina saiu da sala de cirurgia e chegou ao quarto, reclamou divertida: "Margarida não é girassol!", ao que a mãe respondeu: "Pode deixar que um dia eu vou compensar você com muito girassol!”.

Foi assim que a flor guiada pelo sol se transformou no símbolo de Carol após sua morte. A família divulgou no velório sua predileção pela flor e uma profusão de girassóis homenagearam Anna Carolina, representando a leveza, beleza e luz que ela deixou.

A história de Carolina é contada por muitas vozes. A tia Patrícia não se esquece de sua lasanha e do palmito do jeito que só ela sabia cortar; dos bolos deliciosos e dos almoços e festas que ela organizava. Em suas palavras: “A Carol era uma artista! Pintava as paredes com desenhos lindos, fazia bolsas, sapatilhas, roupas...”. Essa arte e empenho ela levou até para o sistema prisional, onde foi professora um certo tempo e ensinou os reeducandos a pintar e depois fez uma exposição.

Para a irmã Wilminha, foi um privilégio viver vinte e seis anos ao lado de Carol, com tantas coisas boas juntas. “Era uma alma tão boa que nunca tinha tempo ruim com ela. Se o dia estava feio, ela dava um jeito de deixar tudo bem, de tirar coisas boas daquilo. E aí, quando bate a saudade, a tristeza nem dura muito, porque logo vêm à memória os seus sorrisos, o quanto ela estava sempre feliz, fazendo festa e encontrando uma solução para tudo.”

Anna Carolina foi uma pessoa insubstituível. Com seu jeito especial reservou um cantinho para cada um em seu coração gigante e, com sua forma de cuidar, conquistou por sua vez um lugar no coração de cada um.

Com sua luz inexplicável, continua como os seus girassóis iluminando e alegrando a todos de onde estiver.

Anna nasceu em Goiânia (GO) e faleceu em Brasília (DF), aos 36 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela tia de Anna, Patrícia Maria Pinheiro. Este tributo foi apurado por Rafaella Moura Teixeira, editado por Vera Dias, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 17 de agosto de 2021.