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Antônia Rozalia Araújo Muratori

1951 - 2021

O sol nem bem havia nascido e já era possível ouvir sua voz entoando as canções que alegravam o seu coração.

Ela amava cantar e empenhava-se nas modas sertanejas, em especial nas canções de Leonardo — sabia todas! E, entre o estender das roupas no varal e o espanar da poeira dos móveis, ela soltava a voz e fazia, do seu dia, um dia melhor.

Rosa, como era carinhosamente chamada pela sobrinha Bruna, era totalmente voltada para a família; uma pessoa alegre, carinhosa, sempre preocupada com todos à sua volta e disposta a ajudar: não media esforços para fazer o bem e não olhava a quem. Para ela, estar com os seus era seu passatempo preferido. Amava reuniões em família, pois acostumara-se a elas. Pudera! Vinha de uma família numerosa: eram 14 irmãos, sete homens e sete mulheres, contando com ela; e mesmo após a partida de quatro deles, na mais tenra idade, ainda assim, a família continuou grande. Muito responsável, desde pequena ela ajudava a mãe nos afazeres da casa e nos cuidados com os irmãos mais novos.

Rozalia era uma "manteiga derretida": muito emotiva, ficava tocada com tudo: as novelas, as músicas românticas... quando estava triste, chorava; quando estava feliz, chorava também — ela era só amor.

Aposentada há algum tempo, havia trabalhado como telefonista por muitos anos no Hospital Distrital Edmilson Barros de Oliveira (Frotinha de Messejana), onde era muito querida por todos, não importando o cargo ou a posição social. Rozalia tinha habilidade para se comunicar com as pessoas e as cativava com seu jeito doce e alegre de ser. Em todo lugar fazia amizades: na fila do supermercado, na sala de espera do consultório médico, nas aulas de hidroginástica; por onde passava deixava um rastro de encantamento, pois tratava a todos muito bem, de igual para igual, sempre disposta a ouvir e ajudar.

Com seu esposo e companheiro de vida teve uma relação de amor, respeito e dedicação, que durou até sua partida. Tiveram uma filha, que se foi três meses depois de nascida, infelizmente; mas seu coração partido de mãe foi acalentado pelo amor que dedicava à sobrinha Bruna, que adotou como filha. Tempos depois, esse mesmo coração abrigou os netos Enzo, que ela criava, Pedro e Pablo, todos filhos da Bruna.

Rozalia era também uma mulher de fé. Católica, rezava o terço todos os dias pedindo sempre proteção para si e para os seus, pois amava sua família e todos ao seu redor. Tinha uma personalidade marcante. Mulher admirável, exemplar e responsável. Com ela não tinha meio termo: chegava a tomar os problemas dos outros para si e tentava resolvê-los da melhor maneira possível. "Ela gostava muito de repetir a frase: 'Eu sou muito justa!'. e realmente era", conta a sobrinha Bruna.

Além de esposa, mãe e avó, Rozalia era também perfeita como dona de casa. Colocava amor em tudo o que fazia: nos passeios com os netos e nas comidinhas deliciosas que preparava, como o seu vatapá, o feijão, o frango cozido e o bolo mole, sem igual.

Em 2018, Rosa e a filha do coração passaram a se ver menos, pois estavam morando em cidades diferentes: Bruna em Barretos e ela em Fortaleza; os abraços tornaram-se menos constantes — a cada seis meses, quando a Bruna viajava para vê-la. Mas a distância não foi capaz de separá-las: conversavam pelo aplicativo de mensagens e por vídeo chamada; e se a sobrinha passasse um dia sem ligar, ela logo reclamava dizendo que tinha sido esquecida.

A tia Rosa planejava ir para Barretos visitar a sobrinha e conhecer sua casa, mas então veio a Covid-19 e ela se foi. É Bruna quem diz: "Somos gratos pela oportunidade de conviver com alguém tão especial. Mas como Deus quer os melhores ao seu lado, chamou-a para compartilhar do Paraíso!

Rozalia deixa esposo, irmãos, sobrinhos, amigos, filha, netos e um grande exemplo de força, coragem e amor. Deixa uma saudade imensa e a certeza de que sua missão aqui na Terra foi cumprida honrosamente.

Antônia nasceu em Ipu (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha, que ela adotou como filha de Antônia, Bruna Hellen Araujo. Este tributo foi apurado por Rafaella Moura Teixeira, editado por Rosa Osana, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 12 de novembro de 2021.