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Antônia Vieira da Silva

1938 - 2021

Seu maior presente era ver a família mobilizada para ajudar o próximo.

Tonha foi tia, madrinha, comadre e mãe de coração grandioso. Com seu olhar atento, Dona Antônia, devota de Nossa Senhora e do Coração de Jesus, sempre cultivou a bondade e caridade em suas ações, servindo à Igreja e partilhando o pouco que tinha com quem mais precisava em sua comunidade.

Mulher vaidosa, Antônia amava um vestido bonito, não gostava de andar desarrumada e nem de ver os seus desajeitados. Foi um pouco de tudo em sua cidade do interior: professora, vendedora, cabeleireira, enfermeira e benzedeira.

Em Mar Vermelho, incentivava seus 14 filhos a estudar, trabalhar e conquistar a independência, ultrapassando as cercas do interior. Além de seus inúmeros afilhados espalhados por Alagoas, criou mais de dez filhos do coração na cidade. No seu peito sempre cabia mais um e, aos 50 anos, adotou o caçula, Melque Zedeque, que possui paralisia.

Cristã fervorosa, sua missão era em oração. Depois que passou a ficar mais em casa, fazia terços para presentear as freiras. Dona Tonha contribuiu com a formação de muitos padres e fez muitos afilhados no interior, ajudando na compra da roupa da primeira comunhão ou mesmo arrumando vaga em educandários religiosos.

Desde pequena, sempre gostou de fazer amizade e era tida como conversadora na sala de aula. Se alguma família estivesse passando por algum mau bocado, juntava suas amigas e iam naquela casa rezar.

Com sua casa sempre cheia, Tonha tinha mais de 50 netos e era a avó que todo mundo gostava de ter. Nos aniversários, sempre encomendava aquele presentinho de vó: não faltava uma caixa de sabonete ou perfume que, por vezes, encomendava aos próprios filhos revendedores de uma empresa de cosméticos.

No seu aniversário, no entanto, ela abdicava dos presentes e só pedia oração e ação em prol dos mais necessitados. E era aí que seus filhos se uniam em campanha para arrecadar fraldas ou cestas básicas para doar e ajudar algum abrigo.

Dentro de casa, espalhava seu canto e sua fé. Ensinou aos filhos, desde pequenos, a rezar e cantar canções como “Mãezinha do Céu”. Ao se despedir de quem amava e bem queria, sempre o entregava nas mãos do maior: “Vai com Deus e que Nossa Senhora te acompanhe”.

Adorava caminhar e viajar, visitar algum filho ou comadre. Gostava de estar em toda missa e nos últimos dez anos se fazia presente na Igreja Santa Terezinha do Menino Jesus e na Paróquia Virgem dos Pobres. Com a pandemia, não deixou de alimentar sua fé e acompanhava as missas pela TV.

(Texto da jornalista Kamilla Abely, do projeto de extensão Memoráveis Alagoas da Universidade Federal de Alagoas, com depoimento do filho Antônio Vieira).

Antônia nasceu Tanque D'Arca (AL) e faleceu em Maceió (AL), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Antônia, Antônio Vieira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Kamilla Abely, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 27 de outubro de 2022.