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Antônio Batista Vieira

1950 - 2020

Analista político nato, odiava injustiças e amava os pássaros, as filhas, os netos e a música brega romântica.

Antônio Batista Vieira tinha um firme propósito na vida: garantir que seus descendentes tivessem acesso ao estudo que ele mesmo não teve. Tudo o que sabia aprendeu na dura escola da vida, na lida e na capacidade inerente aos sábios de absorver de absolutamente tudo uma lição.

Não se conformava com os rumos políticos do país; doía-lhe o fato de ter trabalhado uma vida inteira, vertido tanto suor e esforço para, no fim das contas, receber um mirrado salário mínimo e sequer ter a oportunidade de seguir trabalhando em função de puro preconceito contra sua idade. A filha Angela conta que o pai andava até meio depressivo por conta disso, pois sentia-se cheio de energia para trabalhar, mas não tinha oportunidade e isso o privava de ter melhores condições de vida.

O fato é que Antônio Batista, do alto de seus 70 anos, exibia uma disposição digna de admiração; era cuidadoso com a saúde, “malhava”, fazia caminhadas, alimentava-se muito bem e bebia dois litros de água por dia. Ninguém entende como foi que esse inimigo invisível chegou e levou embora essa fortaleza que atendia pelo título de “melhor pai do mundo!”; filhas e netos o chamavam de pai, porque ser pai era sua maior especialidade.

Construiu com a esposa Rosilda – costureira de mão cheia, mulher guerreira e parceira de uma vida – uma lida família. Tiveram quatro filhas: Sandra, Angela, Jakeline e Steffany; três netos: Pedro Guilherme, que o avô amava chamar de “doutor”, posto que o rapaz deu à família a honra de ingressar na faculdade de Direito; Samuel e Ângelo, e a única netinha, a linda Ana Rute.

A filha Jakeline formou-se em Nutrição em julho de 2020; sua maior tristeza é que seu pai tão amado não teve a chance de participar dessa conquista, pois partiu em 12 de junho. A saudade e a falta do pai já seriam compreensíveis naturalmente, no entanto, no caso de Jakeline, Antônio Batista foi seu maior incentivador: dava sempre o maior apoio moral na hora de estudar para as provas e acordava cedinho para tomar café da manhã junto com a filha e fazer graça – a moça tem dedos longos e o pai brincava de coçar a orelha com eles. Eram 19 km percorridos todos os dias por Jakeline para ter aulas na universidade e conquistar o tão sonhado diploma. No dia da colação de grau, a filha, orgulhosa, fez questão de tirar fotos vestindo a beca e ostentando nas mãos de dedos longos a foto do pai querido.

As visitas de Antônio Batista à casa da filha Angela eram motivo de imensa alegria, uma verdadeira festa no coração de todos, principalmente dos netos. Antônio chegava à porta da filha e de lá bradava: “Anjinha! Cheguei!” A família ali recebia o pai e o avô com todas as honras, comidinha caprichada e o rádio cuidadosamente acomodado ao lado da rede, onde Antônio se deitava para curtir as músicas bregas que tanto amava.

Antônio Batista foi homem de coração generoso e doce, pai insubstituível e exemplo de força e resiliência que seguirá guiando os passos das filhas e netos lá do azul do céu, o mesmo céu cor de turquesa onde agora voam todos os seus passarinhos, que ele mesmo soltou, inexplicavelmente, antes de adoecer. Brilha, Antônio! Sua memória segue eternamente viva no coração dos seus aqui na terra!

Antônio nasceu em Maranguape (CE) e faleceu em Maranguape (CE), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Antônio, Angela Maria Serafim Vieira. Este tributo foi apurado por Ana Macarini, editado por Ana Macarini, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 20 de setembro de 2020.