1944 - 2020
Caminhoneiro, via na profissão uma conexão com a alegria, amigos e boas histórias para viver e contar.
Ele era conhecido como Bola de Ouro — um apelido dado por seu pai, Antônio Gualberto, considerando o fato de ele ter sido sempre um filho amoroso, cuidadoso e atencioso, que conseguia adivinhar os pensamentos dos pais só pelo olhar.
Foi um homem forte, muito determinado, e que fazia amigos por onde andava. Passou por muitos perrengues nessa vida, mas, dono de um caráter ímpar, possuía personalidade e inteligência admiráveis, que contribuíram para que ele suportasse com grandeza todos os revezes da vida.
Sua relação com os filhos e netos sempre foi de muito amor, cuidado, companheirismo e carinho. Fazia tudo pelo bem da família, sempre disposto a ajudar como podia. Um paizão sem igual, de quem a filha Maria Iracema se recorda com carinho: “Me ensinou tanto, mas tanto, que nem sei expressar em palavras. Dono dos melhores conselhos, das melhores piadas, dos melhores abraços e dos melhores carinhos, mesmo sendo tão tímido em demonstrar. Uma das memórias marcantes que tenho do meu pai, é dele sentado na cadeira da sala de casa, ouvindo suas músicas preferidas. Era todo dia. Todo dia ele estava ali, carregado de lembranças trazidas pelas músicas. Músicas que, inclusive, eram escolhidas a dedo por ele”.
Quando partiu, deixou a esposa, Maria Vanderli, e cinco filhos: Beto, Olga, Dudu, Iracema e João Claudio. Seu maior sonho era vê-los bem e formados. “Quando passei no vestibular, meu pai só faltou soltar fogos! Era um sonho que estava prestes a se realizar e ele comemorava como se fosse algo comparado ao Brasil ganhar uma Copa do Mundo", conta Maria Iracema, achando graça. "Ligou para toda a família contando a notícia, e eu ainda nem tinha sido matriculada”.
Sua generosidade e bondade foram marcantes ao longo de sua vida, e ele sempre recebia muito bem os amigos e familiares — afinal amava bater um papo, contar piadas e histórias marcantes da sua vida de caminhoneiro. Nessa profissão, da qual ele tinha o maior orgulho ao falar e que exerceu por trinta anos, Antônio Carlos fez inúmeros amigos que sempre se lembram dele e que sentiram muito a sua perda.
Gostava que o caminhão estivesse sempre bastante carregado e dirigia com uma facilidade danada. Quando certo dia um amigo lhe perguntou como ele aguentava andar com o caminhão tão pesado, ele prontamente respondeu, com seu jeito brincalhão: “Ora, é bem maneirinho... Eu não vou levá-lo na cabeça, eu vou é dirigindo!”
Antônio Carlos sempre falava que, para ele, ser caminhoneiro era como um divertimento: além de fazer o que gostava, podia conhecer vários lugares e pessoas, pois essa profissão o levava a quase todos os lugares do Brasil.
Ele amava ouvir música. Era algo que o tranquilizava. Sempre arranjava um tempinho para escutar as suas preferidas; e também para sentar-se na calçada, com a esposa, toda tarde. Estes eram seus hábitos mais marcantes.
Antônio Carlos deixou seu legado de integridade, respeito e altruísmo e sua passagem foi feita de amor, bravura, aprendizado e boas histórias para contar. "Pai, obrigada por ter sido tudo e muito mais do que esse mundo merece. Sentiremos demais a sua falta”, despede-se, com gratidão, Maria Iracema.
Antônio nasceu em Uruburetama (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Antônio, Maria Iracema Moreira Sales. Este tributo foi apurado por -, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 3 de abril de 2022.