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Antônio César Josino Rodrigues

1957 - 2021

Com generosidade buscava sorrisos e festejava a vida... todos os dias!

Mais que cuidar de sorrisos, Antônio gostava de produzí-los na vida real através de suas atitudes. Homem simples e discreto, admirava os risos que a vida ia fazendo acontecer, mas preferia sempre ficar no anonimato. No transcorrer da vida foi um ótimo filho, irmão, esposo, pai e amigo.

O doutor César Josino, como era conhecido, sempre foi um profissional atuante, responsável e envolvido com a organização dos dentistas cearenses. Foi diretor dos departamentos de esportes e patrimônio da Associação Brasileira de Odontologia na regional do Ceará (ABO-CE), instituição considerada por ele como sua segunda casa. Celina, uma de suas colegas de trabalho conta que ele era “respeitoso com todas as pessoas, conversava de igual para igual com qualquer um. Aqui na ABO, por exemplo, tratava todos os funcionários da mesma forma, da faxineira ao presidente, e fazia questão de chamar a todos pelo nome”.

Estudioso, dedicou sua atuação na odontologia à área buco-maxilar e endodontia. Recentemente estava estudando para tornar-se também auditor odontológico. Graças à sua facilidade de relacionamento com as pessoas, desde o tempo de faculdade, César conquistou muitos amigos que levou pela vida inteira. Já como dentista, gostava muito de trocar experiências com seus colegas e outros profissionais que foram fazendo parte de sua trajetória. Neste movimento, alguns casos eram discutidos na expectativa de encontrar sempre a melhor abordagem e estratégia de tratamento.

Muito discreto, fazia questão de não aparecer através de suas realizações. Focado no trabalho, teve gestões muito produtivas na ABO-CE, mas não gostava de aparecer e nem de receber elogios. Certa vez, ficou definido que uma das clínicas da Associação Brasileira de Odontologia receberia o nome dele em reconhecimento pelo seu empenho no trabalho. Celina conta que, categórico, ele sempre dizia “não coloquem o meu nome, por favor. Eu não quero isso.” Somente após seu falecimento, o espaço reservado para acolhimento e espera de pacientes da ABO-CE recebeu o nome de “Pavilhão César Josino”.

Caridoso, e também na habitual discrição, Dr. César Josino doou um consultório para a Associação Anjos de Deus. No atendimento prestado na instituição religiosa, as crianças recebiam orientações de escovação e higiene bucal. Quando necessário, eram realizados diversos tipos de tratamento. A ação voluntária, que ensejou muitos sorrisos, somente veio a público após seu falecimento. Foi só então que os colegas de trabalho da Associação Brasileira de Odontologia tomaram conhecimento do fato.

Em meio a todas as suas atividades, Antônio sempre reservava tempo para atividades físicas. Como diretor de esportes da ABO-CE, organizou campeonatos de diversas modalidades esportivas. Muito ativo e animado, não media esforços para que tudo transcorresse da melhor forma possível durante os eventos, sempre marcados pela organização.

A odontologia e o gosto por atividades físicas também abrem espaço para que aqui seja contato um pouco mais do universo pessoal de Antônio, que no ambiente doméstico era chamado de César. É que durante 21 anos a esposa Ângela foi também secretária e auxiliar dele em seu consultório particular. Ela conta que inicialmente o trabalho no consultório do esposo tinha como objetivo somente a substituição temporária de uma das secretárias dele. Apesar de alguns conflitos no início, a experiência deu certo e ela foi ficando. “Eu precisei fazer alguns cursos para dar conta das funções. Ao longo do tempo, fomos compreendendo que apesar da relação ocorrer num ambiente profissional, antes de tudo eu era esposa do César”.

A relação de 37 anos brotou de um amor de carnaval. O primeiro olhar aconteceu em meio à folia do Bloco Gladiadores da cidade de Morada Nova, no Ceará. Durante os festejos foram se aproximando e passaram a pular o carnaval juntos. Depois, foram mais dez, sempre no mesmo bloco, cujos integrantes eram para Cezinha, maneira como era chamado no mundo das amizades, “amigos irmãos”.

O namoro durou cerca de 5 anos. Depois veio o casamento e da relação amorosa deles foram gerados Rafael, Camila e Leonardo. César era um pai para toda obra. Brincava, deitava no chão, contava histórias, dava banho, levava e buscava na escola e ninava na hora de dormir. Com o mais velho, que é uma pessoa especial, participou ativamente do tratamento. Mais recentemente, diariamente, acontecesse o que acontecesse, o Dr. César Josino precisava esperar que o pai César levasse Rafael para o trabalho numa loja de fast-food. O certo é que César, no passar dos anos, tornou-se uma espécie de amigo dos filhos. A relação de cumplicidade dele com Rafael, por exemplo, era de tal ordem que após o falecimento de César, durante dois meses, o filho continuou esperando que o pai chegasse para leva-lo ao trabalho.

Por essas e outras, no olhar afetuoso e emocionado de Ângela, a palavra que melhor define o que César representava para ela é “companheiro”. Emocionada, a esposa conta que César sempre dizia a ela “abrace mais, beije mais porque um dia eu não estarei mais aqui e você pode se arrepender de não ter feito isso. Eu te amo.”

Retomando o lado esportista de César, não é possível deixar de contar sobre os passeios de bicicleta. Uma de suas atividades de lazer prediletas era pedalar nos finais de semana com amigos, familiares, colegas de trabalho e vizinhos. E foi no giro do pedal e das rodas de suas bicicletas que César e Ângela comemoraram os 37 anos de casamento. A esposa relembra que “foi uma das maiores pedaladas que fizemos juntos em termos de distância”. Sem saber que já estava com Covid-19, César e ela saíram de casa. No passar do vento e da paisagem houve tempo para relembrarem a longa trajetória que decidiram fazer juntos enquanto casal. Depois de uma boa distância, “paramos numa tapioqueira para um lanche” recorda Ângela. Em seguida, leves e felizes, retornaram para o Condomínio onde moravam.

No futebol, gostava muito de jogar com amigos e seu time de futebol society chegou a ser campeão de um torneio organizado pela Associação Brasileira de Odontologia. Como torcedor, sua grande paixão era o time do Ceará. Dia de jogo era momento de ir ao estádio com a família e amigos. Ele era do tipo que comprava camisas do seu time do coração e organizava encontros que mais gente torcesse junto. Um dos pontos de confraternização era a “arena casa 01”, morada do Sílvio, no condomínio onde moravam... um grande amigo que sente muita falta do companheiro de torcida. A paixão pela equipe cearense era tanta que, certo dia, o doutor César Josino saiu acelerado de um evento na ABO-CE para não perder o início do jogo do Ceará.

Com seu jeito ativo e sociável, por onde passava, César agregava pessoas e levava a alegria do sorriso. E por seu modo afetuoso era chamado de Cesinha pelos amigos. O condomínio de cinco casas, em boa parte pela presença dele, parecia uma grande família. Quando foi eleito síndico, em vez de ficar apenas um ano como habitualmente acontece em condomínios, exerceu a sindicância por um período mais longo. Ocupou-se de reformas, mas principal e alegremente, organizava as festas. Carnaval, São João, natal, ano novo e os inesquecíveis aniversários. O dia de celebração do nascimento de Cesinha era dia de “Festa da Fantasia”. O evento reunia, além dos vizinhos, colegas de trabalho e familiares. De acordo com o tema da festa, cada um preparava sua fantasia. No último aniversário, César foi o imperador e os convidados príncipes, princesas e súditos.

Nas famílias dele e da esposa Ângela, não era diferente. Como filho de seu Antônio e dona Josinea, honrou o nome que herdou do pai, e na sua atenção e cuidado com os dois foi um filho exemplar. Com os irmãos Antônio Carlos, Graça, Fernando e Ana Maria, a relação sempre foi de parceria e fraternidade verdadeira. De tal maneira que eles ainda sentem muita falta do irmão. Nos eventos e encontros familiares, César era a peça principal. Ângela conta orgulhosa que em muitas situações “eu dava a ideia e ele organizava tudo para a gente se encontrar”. Ela faz questão de acrescentar que “César também era um excelente tio e tinha um ótimo relacionamento com os sobrinhos”.

O dentista que gostava de carnaval e Fred Mercury, segue vivo nos sorrisos dos pacientes que ainda hoje recebem tratamento em espaços viabilizados pela ação dele. Na lembrança dos abraços que Ângela recebia nas datas de seus aniversários e dia das mães. Na foto que registra César cantando parabéns e batendo palma em um dos aniversários... Na bicicleta de tantas voltas que segue guardada com carinho e na manutenção do hábito de pedalar de Ângela que com todo seu amor por ele diz que sente sua presença “nas borboletas que passam por mim, no vento que sinto e nas flores que vejo”.

Antônio nasceu em Fortaleze (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa e pela colega de trabalho de Antônio, Ângela Maria Mota Chagas e Celina Maria Maia Amorim. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ernesto Marques, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 11 de janeiro de 2023.