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Antônio Costa Nogueira

1949 - 2020

Trabalhou duro para ter o que almejava; e nas horas de folga amava se aventurar com os netos em passeios pelo quarteirão.

Dificilmente alguém o conhecia por Antônio. Para toda a cidade de Tambaú, ele era o Tonho Borginho. O apelido foi uma herança de seu pai, Borginho. Membro de uma numerosa família de onze irmãos, logo cedo, começou a trabalhar em um açougue para auxiliar no sustento de casa. Mesmo com as dificuldades ainda na infância, nunca tirou o sorriso de seu rosto e sempre que possível dedicava um tempinho para jogar futebol com os seus amigos.

Na juventude, enamorou-se de Aparecida, conhecida carinhosamente por Doca. À época, ele que saía em seu carro para passeios pelas cidades vizinhas com os amigos, logo se encantou pela moça que vivia em Casa Branca, interior de São Paulo. Os dois se casaram e permaneceram unidos por quarenta anos. O casal emanava o mais profundo companheirismo: inseparável, fazia tudo junto e mesmo nas divergências, se completavam.

Dessa união, repleta de muito amor, vieram as filhas, Cátia e Araceli, seus dois grandes amores. Pai sempre presente e amoroso, defendia as filhas com unhas e dentes. "Das lembranças mais marcantes da minha infância, guardo uma vez em que ele e eu fomos ao banco, sem avisarmos minha mãe. Preocupada, ela me procurou por toda a parte e quando chegamos, ela ficou brava conosco. Ele, então, me defendeu e assumiu toda a responsabilidade pelo ocorrido", recorda a filha Cátia.

Com o passar do tempo, os genros Leandro e George vieram para agregar afeto e união à família. Os dois se tornaram grandes companheiros do sogro em churrascos, passeios e eram também sua companhia para tomar cervejas enquanto Tonho os entretinha com suas histórias divertidas. Não tinha assunto que ele não gostasse de conversar: política, futebol, religião, amenidades do cotidiano, de casos do passado e de histórias que estariam por vir. Tudo era motivo para uma boa prosa. Também não perdia a oportunidade de contar suas famosas piadas nas reuniões familiares. À medida que se empolgava, aumentava o tom de voz, sempre seguido por um "fala baixo, pai", das filhas, ou um "fala baixo, Tonho", da esposa.

Encontrou sua maior felicidade sendo avô de Olavo, Luíza e João Pedro. Carinhoso e divertido, dedicava-se a fazer os netos sorrirem e, depois de sua aposentadoria, passava a maior parte do tempo com a neta Luíza. Com eles, dava asas ao faz de conta com seu vasto repertório de adivinhações, aguçando a curiosidade dos pequenos. Os passeios na calçada e pelo bairro com os netos eram sinônimo de aventura e diversão garantidas. Não há dúvidas, a família era o seu bem mais precioso!

Dedicado ao trabalho, tinha seu próprio negócio como encanador e calheiro, conquista que lhe trazia muito orgulho. Volta e meia, repetia que vencera na vida! De personalidade positiva e tranquila, nenhum problema tirava seu sono, para tudo sempre encontrava uma saída, preferindo - em qualquer situação -, enxergar o copo meio cheio. Vaidoso, tinha o costume de realizar sua caminhada todas as manhãs para manter a boa forma física.

Em todos os seus momentos livres, reunia seus familiares para almoços; churrascos, com direito a uma saborosa costela, sua comida predileta; viagens; idas à Pizzaria do Frangão; e para preparar o famoso lanche do Tonho, um delicioso hambúrguer, que por ser feito com tanto amor, tinha um sabor todo especial. Também torcia com muito fervor para o seu 'Corintia', modo carinhoso que chamava o Corinthians, seu time do coração.

Com sua presença cativante, era também um tio muito querido por todos os seus sobrinhos, principalmente, para Eduardo, Fagner e Rodrigo, com quem tinha uma relação paternal. Este último, inclusive, era motivo de orgulho para o tio, que não desperdiçava a oportunidade de falar para toda a cidade que tinha um sobrinho médico, formado pela Universidade de São Paulo — USP.

Uma de suas músicas preferidas, "Naquela mesa", interpretada por Nelson Gonçalves, retrata bem quem era Tonho e o tamanho da saudade que ele deixou: "Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre o que é viver melhor. Naquela mesa ele contava histórias que hoje na memória eu guardo e sei de cor. Naquela mesa ele juntava a gente e contava contente o que fez de manhã."

Durante toda a vida, Tonho era o narrador onisciente dos acontecimentos de Tambaú e região. Conheceu pessoas que deixaram um legado para a cidade e fez com que, como relíquias, as histórias delas fossem perpetuadas por novas gerações. Desde sua saudosa partida, ele que sempre se fez memória viva, eternizou-se pelos momentos, por toda a sua alegria e pelas histórias descontraídas, que na voz e no jeito dele eram muito mais marcantes e divertidas. Deixou uma saudade tão gigantesca quanto sua coletânea de narrativas infindáveis.

Antônio nasceu em Tambaú (SP) e faleceu em Tambaú (SP), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Antônio, Cátia Roberta Nogueira Bagatta. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Andressa Vieira, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Ana Macarini em 14 de fevereiro de 2022.