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Antônio Gernaldo Pinto

1975 - 2020

Um homem que transbordava amor pela família, pela música e por sua cidade natal, Orós.

Cheio de vida, sonhos e afeto. Sempre muito querido por todos ao seu redor. Não era de guardar mágoas, pelo contrário, ajudava a quem fosse, sem distinção. Um nordestino arretado que não fazia corpo mole para o trabalho, a fim de garantir o melhor para os seus.

Era extremamente apaixonado por música. “Dono do melhor repertório de MPB que todos poderiam ouvir”. Nos barzinhos do bairro, realizava-se e deixava seu canto ecoando, solto, leve, do jeitinho que ele era. Tudo ficava completo quando, lá na plateia, sua família estava.

E por sua família fazia de tudo. Filho da Francinete e do Arnaldo. Irmão da Gerlene e do Ginaldo. Ao lado da Patrícia, sua esposa, cresceu, construiu e partilhou muitos cantos. E, então, vieram Paulo Rodrigo, João Pedro e Arthur, seus filhos.

“Meu pai era mesmo diferente. Até mesmo no nome, né? Gernaldo! Muitas pessoas o chamavam de ‘Gerrinaldo’, então, dessa pronúncia errada, veio a abreviação ‘Jerry’. E ele, descolado que era, adotou o codinome. Nossos melhores momentos eram nos jogos: torcemos para times rivais, então, quando o meu perdia, ele sempre dava um jeito de fazer piadas sobre o fato”, relembra o filho Paulo Rodrigo.

Sua cidade natal, Orós, era como uma terra sagrada para ele. Um lar onde se reconectava e se renovava, toda vez que a visitava. Tamanho era o apreço por esse lugar que nem mesmo a distância era capaz de desanimá-lo: morando em Fortaleza, precisava enfrentar 350 km de viagem. Um trajeto que fazia apaixonado e ansiosamente, várias vezes ao ano. Seu maior sonho era voltar a morar lá.

Em seu repertório musical sempre estavam as canções do Raimundo Fagner, de quem era fã assumido. Uma conexão que aconteceu tanto por seu gosto pela MPB, como por ambos serem conterrâneos. Chegaram até a se conhecer. Uma das principais canções que não podia faltar em seu canto era Deslizes: “e como um prêmio, eu recebo o teu abraço”, diz um trecho, que muito se assemelha a sensação que experimentava ao chegar em Orós.

“Ele era muito apaixonado por nós, pela música, por sua cidade. Tinha mania de dizer ‘pode pedir, eu não vou comer’, mas quando a comida chegava era o primeiro a atacar. Até as suas piadas ruins irão fazer falta. Sorte de quem pôde dividir a vida com o Antônio Gernaldo. Para nós, o Jerry”, conta sorrindo o filho Paulo.

Seu Antônio foi um ser de muita luz. Sinônimo de bom humor, sabedoria e cuidado. Seu legado continuará sendo lembrando pelos que aqui ficaram. Quanto ao seu canto, ah... este seguirá vivo na mente, no coração, nos bares e nos lares.

Antônio nasceu em Orós (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 44 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Antônio, Paulo Rodrigo. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Thiago Santos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de setembro de 2020.