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Antônio Hélder Rodrigues de Lima

1984 - 2021

Rei da resenha, não parava um final de semana em casa; a família e os amigos sempre o acompanhavam.

Antônio Hélder, o herdeiro do talento culinário de Graça, sua mãe, e do jeito extrovertido de se relacionar do pai, Pedro, tinha como filosofia de vida o servir. Dizia e repetia "Eu vim para servir, não importa a quem" e assim trilhou seus dias prestativo e presente.

Antônio Hélder nasceu em Fortaleza, a capital do Ceará, e de lá não arredou o pé. Cresceu junto a seus irmãos, Wagner, Onezia e Gleuson e desde pequeno mostrou-se prestativo com todos a sua volta e com quem cruzasse seu caminho. Ia ao mercado, consultas e buscou independência financeira muito jovem.

Foi com esse espírito disposto a ajudar a todos que conheceu a esposa, Maria Elisângela. A moça, acompanhada de uma amiga, estava indo à praia e não conseguiu desviar de um buraco que ocasionou problemas mecânicos. Antônio e um amigo em comum de Maria socorreram as moças à beira da estrada, tiraram o carro "do prego" e ainda as levaram à praia, todos no carro de Antônio. Ele dizia a todos que foi amor à primeira vista. O romance decolou rapidamente, Maria Elisângela e Antônio Hélder tinham gostos parecidos, principalmente quando o assunto era festa e ele sempre podia contar com a forcinha da avó Francisca que patrocinava ora ou outra a gasolina do carrão.

Quando o momento chegou e a família começou a aumentar com a chegada da filha, Evelyn, Antônio Hélder não recuou: arregaçou as mangas e assumiu o posto de provedor da família. Ele foi um pai presente, amava estar com a filha amada em todos os momentos: desde passeios de patins ou skate, até alongar o trajeto de volta para casa para deixar os colegas da filha em suas casas. Antônio Hélder era o tio da carona que transformava a volta para casa em festa, ele era o motorista e a garotada os djays.

Antônio Hélder tinha paixão pela vida, além de todo carinho, conforto, e zelo que tinha pela família também proporcionou a filha e esposa muitas lembranças boas: em 2019 levou a esposa para assistir ao jogo do Fortaleza, campeão cearense, no Castelão, dançava forró com a amada e realizou o sonho dela de passear em Salvador, cidade natal da esposa.

"Tinha atitude pra tudo, mas ele não fazia nada sozinho, sempre nos envolvia, pois sempre foi muito família", relembra Maria Elisângela. Ficar parado não fazia parte do dicionário de Antônio e nem do seu roteiro, quando a família insistia em permanecer em casa no final de semana ele dedicava-se às tarefas domésticas como forma de barganhar um passeio. Caso não conseguisse, fazia um churrasco no terraço.

Antônio Hélder serviu quatro anos como soldado no Exército Brasileiro, depois deixou sua perspicácia ao volante aflorar e atuou como motorista, e nos últimos oito anos uniu o que herdou dos pais à sua paixão por dirigir: atuou como representante comercial no ramo alimentício, andava por todo lado do seu amado Ceará. Nunca faltava disposição para ele quando o assunto era viagem, principalmente aquelas que poderia usufruir da companhia da família. As vezes, ele pegava a 'quatro por quatro' e ia para as dunas de areia para sentir correr pelo corpo a sensação de estar livre.

As cidades que ele mais gostava de frequentar eram ligadas à pessoas amadas: Mossoró, cidade do Rio Grande do Norte, onde moravam seus avós; Brejo Santo, cidade cearense em que morava Libonio e Suellen, casal de amigos; no litoral cearense gostada de Trairi e da praia do Uruaú.

Avesso à rotina e também às redes sociais, aproveitava ao máximo a vida ao lado dos amigos, que não eram poucos! Desfrutava da companhia de sete casais de amigos: Jeam e Michelle, Alexandre e Myrlane, Tici e Wenys, Patrícia e João, Paulinha e Marcos, Filho e Samanta, Beth e Maia. Antônio Hélder fazia questão de reuniu a turma do peito, frequentavam a praia juntos e faziam churrascos.

Dotado de talento e munido de várias receitas, Antônio Hélder era o chefe das panelas na sua casa e na casa da irmã Onézima. Ele era apaixonado pela culinária nordestina, receitas preparadas pela Graça, sua mãe, mas preparava todo tipo de prato: refeições habituais, bons sanduíches, buchada, carneiro e panelada. De todos os pratos, a macarronada era a sua marca, simplesmente inesquecível.

Conversava sobre tudo e com qualquer pessoa, destacava-se a ponto de ser o centro da atenção em todo e qualquer lugar. Cativava a todos com facilidade e elevava o astral de quem estivesse à sua volta, seu sorriso fácil era capturado em todas as fotos e vídeos. "Ele dizia que os dentes dele eram perfeitos de mais para não ficar sorrindo", relembra a esposa. Além do jeitinho extrovertido, herdou do pai, Pedro, o gosto por músicas do estilo brega e fazia questão de ensinar todas as canções à filha. No carro de Antônio não haviam apenas marcas dos quilômetros rodados pelo estado, também haviam vários pen drives com todo tipo de música que eram ouvidas no volume máximo, a ponto de estourar os tímpanos.

"Não consigo falar dele e pensar em coisas tristes. Foi a pessoa mais prestativa, e animada que eu conheci. Um pai e esposo exemplar, o melhor que poderia ser", conclui Maria Elisângela.

Antônio nasceu em Fortaleza (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 36 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Antônio, Maria Elisângela do Nascimento. Este tributo foi apurado por Peter de Souza, editado por Peter de Souza, revisado por Claiane Lamperth e moderado por Rayane Urani em 28 de janeiro de 2022.