Sobre o Inumeráveis

Antônio Honório da Silva Barros

1950 - 2021

Boêmio e sonhador, deixou a profissão de advogado e abriu um bar para reunir os amigos e cantar samba de raiz.

Chamado de Toinho e Honório, ele era filho Maria e Pedro, já falecidos, donos de um coração gigante e, como filho caçula recebeu muito mimo e carinho. O amor à mãe foi a inspiração para o nome da filha Laura Maria, como forma de homenageá-la.

Ele conheceu Quitéria numa escola em que ela trabalhava e ele prestava serviço como contador. Os dois eram muito diferentes e pareciam não ter muito em comum, mas era nítida a união que viviam. O casal gostava de ir ao shopping, e fazer compras juntos no supermercado numa parceria para todas as horas!

A esposa organizada e responsável, e ele o inverso, só conseguia ser organizado com suas finanças. Todo ano comprava um caderno para anotar seus gastos e nele registrava até balinhas que comprava e, quando faleceu, Laura conta que chegou a sonhar com ele lhe pedindo para cuidar de seu caderninho.

Antônio foi contador e advogado e, a uma certa altura da vida, decidiu realizar seu sonho de abrir um bar. Naquele estabelecimento deu vazão à sua paixão pelo samba, e lá ele passava a maior parte de seus dias. Com a ajuda da esposa, o bar funcionou durante quatro anos com o nome de Cartilha do Samba. Era simples e único, pintado de amarelo e decorado com quadros referentes a cervejas. Estava sempre repleto de amigos e samba de raiz, fazendo seus olhos brilharem de orgulho e felicidade.

Laura, a filha conta sobre essa decisão e seus resultados: “Decidiu deixar suas antigas profissões para seguir seu sonho, que era este, de reunir os amigos ao som de seus sambas preferidos, e fazer disso uma forma de trabalho, para que pudesse viver mais leve! Além de apreciar os sambas, cantava-os! Os preferidos eram Roberto Ribeiro, Clara Nunes, Zeca Pagodinho e Noite Ilustrada”. Sua filha caçula revela que hoje sabe a maioria das músicas por conta do gosto do pai.

Ele apreciava tanto o seu trabalho no bar que, certa vez fez uma cirurgia que demandava repouso, mas no dia seguinte ele o abriu e foi trabalhar normalmente. Ele só não gostava de cozinhar e as comidas de boteco, caldinhas e pratos típicos do Nordeste eram feitos pela esposa e por uma cozinheira contratada. Sua comida preferida era pizza de muçarela e sua especialidade culinária era a vitamina de abacate, a mais gostosa que as filhas experimentaram na vida.

Em suas horas livres, divertia-se nas reuniões com os amigos, durante as quais passavam o tempo todo cantando juntos. Também gostava de assistir a jogos de futebol, principalmente na parte da tarde. Torcia para o Santos e não perdia um jogo sequer! Parava o bar para ver o jogo, se precisasse. A família cuidava de dez cachorros. Ele trouxe quatro que encontrou na rua para casa e os demais eram filhotes de uma fêmea que eles já tinham.

Seu gênio forte e teimoso, provocavam algumas briguinhas e desentendimentos com as filhas, Leila e Laura; mas ele era muito brincalhão, sempre foi a alegria da casa e a relação com elas era muito boa. Ele costumava demonstrar seu amor levando pizzas deliciosas para casa e as chamava para comerem juntos. Laura conta que o pai sempre a conquistava com comida.

Ela conclui suas recordações dizendo que um dos ensinamentos que Antônio deixou foi que suas filhas deveriam sempre seguir seus sonhos, independentemente de quais fossem!

Hoje ele canta e encanta seu samba lá no céu.

Antônio nasceu em Matriz do Camaragibe (AL) e faleceu em Maceió (AL), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Antônio, Laura Maria de Oliveira Barros. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Vera Dias, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 25 de fevereiro de 2022.