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Antonio Kasprczak

1963 - 2021

Jogando canastra ou assistindo filmes, acompanhado de pipoca e chimarrão, ele amava estar em família.

Gaúcho de Independência, Antonio viveu em Imperatriz, no Maranhão, bem longe de suas origens e raízes, para manter-se num trabalho que lhe permitia dar melhor qualidade de vida à família. Era casado com Redi, por quem foi “capturado” quando eram jovens e ele a convidou para dançar. Nesse primeiro encontro, bastou um olhar para que Antonio se apaixonasse. Namoraram por três anos, casaram-se e permaneceram juntos até a partida dele.

Foram trinta e três anos de vida em comum. Durante todo esse tempo Antonio foi um marido devotado e amoroso, que fez de tudo pela esposa e pelos filhos, Rafael e Iasmim. “Foi um marido tão exemplar que minha mãe, conversando comigo sobre seu casamento, afirmou: ‘viveria tudo novamente com teu pai. Casaria com ele mil vezes’”, conta Iasmim. “Ele era um pai, um filho, um esposo, um irmão, um amigo muito queridos. Era o nosso amor, nosso porto seguro, nosso esteio. Era o amor de nossas vidas”.

Ele também exerceu a paternidade com mestria, conforme conta Iasmim: “Ele era um pai maravilhoso! Com toda certeza, o melhor que existiu. Nosso pai sempre nos apoiou e incentivou em todas as nossas escolhas, nos auxiliando em tudo o que fosse possível, sem medir esforços. Ele era o meu melhor amigo!”.

“Paciencioso, dedicava toda a sua atenção, amor e gentileza quando estava conosco. Graças aos seus ensinamentos, crescemos em um lar repleto de valores, onde, pelos bons exemplos, pudemos compreender princípios como gentileza, compaixão, amor, respeito, resiliência e humildade. A falta que o meu coração sente dele é absurda!”

Antonio amava passar o seu tempo livre com a família, que era muito unida. Costumeiramente eles se reuniam para assistir a filmes, acompanhados de uma bacia de pipoca e do chimarrão, que o fazia recordar sua origem sulista. Às vezes cochilava em meio às cenas, mas não abria mão desse tempo com os filhos e a mulher. Também frequentemente escutavam músicas enquanto ele preparava um bom churrasco. Além disso, gostavam de jogar canastra em dupla cruzada, com a mãe e o filho jogando contra o pai e a filha, e nestas ocasiões divertiam-se muito.

Torcedor do Internacional, também gostava de assistir a partidas de futebol ou de ficar bem sossegado em casa apreciando a companhia da esposa enquanto tomavam um mate e conversavam.

Antonio é descrito por Iasmim com palavras amorosas: “Sempre foi uma pessoa simples, que cativava quem tivesse a oportunidade de conviver com ele. Não sabia dizer 'não' e tinha o coração mais puro e bondoso que já conheci. Ajudava os outros sem nem pensar. Não por ser meu pai, mas a existência dele neste mundo não foi em vão. Tinha como marca registrada o sorriso doce, o brilho no olhar e a esperança de dias melhores. Tivemos muita sorte em tê-lo conosco!".

Iasmim ilustra a afirmativa de que o pai não sabia dizer não, contando: “Quando meu irmão e eu éramos pequenos — na verdade, mesmo até maiorzinhos — e queríamos alguma guloseima no mercado ele fazia questão de realizar o nosso desejo, mesmo quando tinha o dinheiro contado para as compras necessárias”.

Profissionalmente, atuava como Gerente Comercial numa empresa multinacional de compra de grãos. O trabalho sempre foi de grande importância para ele, que exercia as suas funções com extrema dedicação e competência, e era muito querido por todos os colegas. Uma história interessante que os companheiros contavam é que ele lanchava às escondidas no trabalho, já que estava acima do peso e Redi, preocupada com o seu bem-estar, regrava a sua alimentação em casa.

As lembranças surgem em profusão e Iasmim começa a contar histórias que ficaram marcadas:

“Eu tinha 7 anos quando meu pai se mudou para o Maranhão a trabalho. Naquela época, ficaríamos alguns meses sem nos ver e impossibilitados de ouvir a voz um do outro, pois não tínhamos telefone fixo em casa. Então, combinei com ele que diariamente, às 20h, olharíamos para a lua, de onde estivéssemos. Desta forma, nossos olhares estariam voltados para o mesmo ponto do Universo. Fazíamos isso todas as noites. Desde então, a lua é o maior símbolo do nosso amor e da nossa união. Mesmo depois de adulta, mantivemos esse hábito: admirar juntos a lua. Espero que ele possa vê-la, lá no plano espiritual onde se encontra. Quando olho para a lua, é nele que eu penso, sempre.”

E acrescenta: "Creio que a história sobre a lua seja a mais significativa. Entretanto, vivemos tantos bons momentos que é difícil especificar. Eu me recordo de vê-lo dançando, animado, nas reuniões familiares e nas festas de amigos; do meu aniversário de 15 anos e do quanto ele se empenhou em organizar uma comemoração para mim; além da minha formatura da faculdade, em que seu sorriso era radiante e os olhos estavam marejados, tamanha a felicidade”.

Iasmim orgulha-se da generosidade de Antonio relembrando sua bondade em relação ao próximo: “O meu pai também nunca deixou de auxiliar sua mãe e sua irmã em todos os quesitos, mesmo com poucas condições para tal, com esposa e filhos pequenos. O bem-estar das duas sempre foi prioridade para ele. No decorrer da vida, quando adquiriu uma condição financeira melhor, auxiliava todas as pessoas que precisavam de ajuda, fosse comprando produtos em mercados, refeições em restaurantes ou dando carona. A gentileza era algo nato em meu pai, sempre cumprimentando e sendo cordial com todas as pessoas que passavam por ele”.

Relembrando gostos do pai, Iasmim conta: “Em geral, músicas gauchescas e canções dos anos 70 e 80, que ele ouvia bastante, me fazem recordar dele. Entretanto, uma delas, em especial, traz à tona o sentimento de saudade: ‘O Anjo Mais Velho’, do grupo musical paulista O Teatro Mágico. Assim diz a canção: ‘Tua palavra, tua história / Tua verdade fazendo escola / E a tua ausência fazendo silêncio em todo lugar’".

"Além disso, também me trazem recordações o aroma do perfume que ele utilizava, o arroz de carreteiro, que ele fazia, e o churrasco, em que ele sempre preparava um pedaço de picanha para mim.”

Iasmim conclui sua homenagem, ressaltando a gratidão pelo que aprendeu com o pai e a saudade experimentada após sua partida: "Meu irmão é pai de uma criança que também se chama Antonio. E se tornou a luz dos nossos dias. Meu sobrinho não nasceu no dia de Santo Antonio, como o avô, mas sim exatamente treze dias depois. É uma pena que meu pai não esteja mais aqui para ensinar, também ao neto, que a lua tem o poder de juntar corações distantes".

“Ele era exemplo de integridade e amor pela esposa e pelos filhos. Tudo o que sou e que aprendi sobre a vida devo a ele e à minha mãe. Foi ele quem me ensinou a ser batalhadora, lutar pelos meus sonhos e a nunca desistir do que sinto que vale a pena, buscando ser melhor dia após dia. O meu pai também me mostrou que o amor é o caminho para tudo e que devemos ter respeito por tudo e por todos. Ao lado dele pude compreender o valor da família e dos bons amigos; que ouvir é mais importante do que falar e que abraços devem ser bem apertados e carinhosos.”

“Queria que todos tivessem a oportunidade de ter um Antonio na vida! Ele realmente foi um super pai! Sinto a presença dele em muitos momentos dos meus dias. O maior sonho do meu pai era ver os filhos formados e encaminhados na vida e Deus permitiu que ele realizasse esse sonho."

“A saudade é imensa, mas aprendemos que saudade é o amor que fica — e como nos amávamos! Sou grata a Deus pela bênção de tê-lo tido como pai nesta passagem. Espero que nos reencontremos algum dia, para juntos, outra vez, admirarmos a lua e darmos aquele abraço apertado e tão cheio de significado.”

“Eu te amarei eternamente, paizinho!”

Antonio nasceu em Independência (RS) e faleceu em Imperatriz (MA), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Antonio, Iasmim Kasprczak. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 26 de agosto de 2023.