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Antônio Pinto de Sousa

2020 - 1942

De sua boca nunca se ouviu uma fofoca ou qualquer maledicência, só lições de vida que nenhuma escola é capaz de ensinar.

Ele não sabia ler ou escrever; tinha um metro e cinquenta de altura, mas a grandeza do homem que foi seu Antônio, nada tinha a ver com sua estatura ou instrução e sim com seu caráter.

Antônio Rufino, como era conhecido por causa de seu pai, era um homem gentil, de hábitos simples; sempre amoroso, sorridente, calmo, tinha como ponto forte seus conselhos sábios e o capricho que dedicava a tudo que fazia.

O Antônio, filho de João Rufino de Sousa e Raimunda Pinto de Sousa, era mestre de obras quando chegou em Brasília; trabalhou também como servente e vigia, mas se encontrou fazendo o que mais gostava: cuidar da sua vendinha. Era uma alegria só quando ele colocava os doces e frutas para vender: laranja, mexerica, melancia - comenta a filha Francicleide, para quem aquela rotina do pai era uma festa, uma alegria imensa.

Seu Antônio aproveitava sua bicicleta cargueira, que usava na entrega de encomendas, para carregar seus filhos e netos, uma diversão para eles. E por mais que a vida do Antônio fosse corrida, ele sempre parava para um dedo de prosa com amigos, em frente à sua vendinha. Apreciava um café da tarde e contar histórias e aventuras de sua passagem pelo Rio de Janeiro.
Ele foi casado com a Maria Neuza e depois com Maria do Socorro; teve sete filhos: Antônio Francisco, Francisco Reginaldo, Francicleide, Francisco Aguinaldo, Francisco Eudes, Francisco Irineu e Marcos Antônio, e doze netos: Ingrid, Gustavo, Iuri, Phelipe, Matheus, Rebeka, Karoline, Pietro, Allesa, Fabrício, Murilo e Allana.

Seu Antônio Rufino era muito presente na família. Visitava a casa dos filhos, se divertia, conversava, tomava refrigerante, fazia churrasco, e todos os domingos vestia seu terno para ir à igreja. Achava lindo o amor a Deus.

Aos amigos ele deixa a saudade das conversas, dos "causos" e dos risos; aos filhos e netos um milhão de lembranças e ensinamentos, como quando o filho Reginaldo ia ao trabalho do pai, em Gama e Cruzeiro, no DF. Nas noites de frio, acordados, o pai o agasalhava com o maior carinho do mundo; carinho esse que atravessou os anos e é parte viva na memoria de seu filho.

Ao Aguinaldo, a lembrança do pai dizendo “Eu não vou deixar nada pra vocês, né? Eu não tenho bens, não tenho carro, não tenho riqueza”, ao que o filho respondeu que "o maior valor que o pai lhes deixava era seu caráter". Aguinaldo se recorda, também, quando o pai esteve presente em um culto em que era o responsável pela pregação da Palavra de Deus e que vivenciou com ele aquele momento único.

Ou a lembrança do quanto seu Antônio era receptivo com a família e os amigos; sempre os recebendo com uma água de coco ou com uma laranja descascada; ou então com um cafezinho passado na hora e um salgadinho para as crianças. Era uma pessoa agradável, generosa, bondosa e prestativa, sempre preocupado em saber se todos estavam bem ou precisando de alguma coisa, lembra a nora Halcia.
A neta Ingrid, além de guardar com carinho as vezes em que ele a buscava na escola, com a famosa bicicleta cargueira, também se recorda de como o avô a ensinou, aos sete anos, a olhar para os lados, antes de atravessar uma rua.
Mais que um avô, ele foi um professor em sua vida!

Antônio nasceu em Guaraciaba do Norte (CE) e faleceu em Brasília (DF), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Antônio, Francicleide Rodrigues Sousa. Este tributo foi apurado por Daniel Ventura Damaceno, editado por Rosa Osana, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 9 de janeiro de 2022.