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Antonio Velas Santos

1950 - 2020

Para navegar nas águas do Amazonas, fazia sua própria canoa.

Seu assunto preferido, a mata. Sabia tudo sobre. Sabia pescar, caçar, plantar, colher e sabia usar as medicinas da floresta. Gostava de passar seus saberes com calma e carinho, tinha a fama de ser um bom conselheiro e o porto seguro de todos a sua volta.

Como sua adoração pela floresta era profunda, não dependia de ninguém para se relacionar com ela. Fazia sua própria canoa e seus remos para navegar nas águas do povo kokama. Se dedicava ao processo de feitio como quem faz sua própria casa, com muita atenção.

Era o segundo cacique da aldeia Sapotal, mas mais do que isso, amor dos seus 8 filhos que sentem tanto sua falta.

Quem sabe se nos concentrarmos, não conseguimos escutar o som de Antonio andando pela mata como gostava de fazer.

Sobre o povo Kokama
O povo Kokama-kokamira habita a Amazônia há mais de 2 mil anos. Hoje estão espalhados pela tríplice fronteira ocupando, no Brasil, a região do alto rio Solimões, com população de cerca de 10.000 pessoas. Além do português, falam a língua originária, kokama, que vem sendo ensinada também como forma de preservação e resistência de sua cultura.

Antonio nasceu na Aldeia Sapotal (AM) e faleceu em Tabatinga (AM), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Antonio, Anderson. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Gabriela Veiga, revisado por Lígia Franzin e moderado por Gabriela Veiga em 24 de junho de 2021.