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Aparecida Euripa Pereira Ribeiro

1960 - 2021

Tia Aparecidinha, como era chamada por seus alunos, cuidava do bem-estar das crianças do transporte escolar à sala de aula.

Mais conhecida como Cida ou Aparecidinha, ela nasceu pelas mãos das parteiras Diomara e Maria Flora, no povoado de Santa Bárbara, município de Sacramento, Minas Gerais. Filha primogênita de Lair Euripa Pereira e Moisés dos Reis Pereira, passou a infância, adolescência e boa parte da vida adulta em sua aldeia natal.

Naquela época, as brincadeiras de criança eram queimada, biscoitinho queimado, pular corda, morto ou vivo, pega-pega, estátua, esconde–esconde... Os recursos eram escassos e o acesso à educação era restrito. Desde pequena, além de ajudar a mãe nos serviços domésticos, tecia cobertas, tirava leite das vacas, fazia polvilho, e farinhas de milho e de mandioca.

Amorosa, era dedicada à família e aos cuidados ao próximo. Em meio às inúmeras dificuldades, foi alfabetizada na própria comunidade de Santa Bárbara, localidade na qual passou a desempenhar papel de liderança social e religiosa, tornando-se catequista e professora.

Começou a lecionar no modelo antigo: naquele tempo, não havia exigência do diploma de ensino superior para dar aulas, sendo necessário apenas comprovar competência para tal. Por conta disso, começou a atuar como professora e, posteriormente, cursou o segundo grau com telecurso.

No início da docência, enfrentou inúmeros desafios: a escola não dispunha de uma boa estrutura, as séries eram dispostas todas em conjunto e não existia transporte escolar. Atuava como professora, mas também realizava a faxina e fazia o almoço, ou seja, era a única servidora da localidade. Diante das inúmeras dificuldades para manter a escola da comunidade de Santa Bárbara, ela foi fechada e os alunos foram transferidos para a Escola Municipal Dona Maria Sant’Ana, localizada na comunidade do Quenta Sol.

Aos 35 anos, Aparecida Euripa casou-se com Evaristo Ribeiro Neto e dessa união nasceu Maria Clara Ribeiro. Após o matrimônio, a professora continuou exercendo suas atividades e passou ainda a ajudar o marido na lida no campo. Cuidava das plantas, dos animais e ordenhava.

Nesse período, lecionava na comunidade rural do Quenta Sol; na ocasião, os alunos e professores já dispunham do transporte escolar para irem até a escola. Os cuidados dedicados às crianças iniciavam-se já no caminho ─ no transporte escolar ─, pois, preocupada com o bem-estar dos alunos, observava se havia alguma criança indisposta; e, caso houvesse, imediatamente oferecia seus cuidados.

Em 2016, as dificuldades vivenciadas no campo, assim como a busca por melhores oportunidades para a filha, fizeram com que a família se transferisse para a cidade de Sacramento; foi então que passou a lecionar como professora eventual na Escola Coronel Júlio Borges, na comunidade de Jaguarinha. Lá estabeleceu profundos laços de amizade graças ao seu trabalho e simpatia.

Ela nunca deixou de acreditar na capacidade transformadora da educação, gostava de fazer tudo com excelência, da melhor forma possível e não deixando nada para depois. Suas atividades eram executadas com amor, carinho e dedicação. Também estava atenta às diversas realidades vivenciadas pelos alunos e, para além do conteúdo formal, levava amor e alegria a todos.

Era catequista na Paróquia da Abadia e participava de forma efetiva nas atividades desenvolvidas pela Igreja. Caridosa, recolhia alimentos e montava cestas básicas para distribuir às famílias mais necessitadas.

Ela soube colocar o amor pela profissão como base primordial do ensino e partiu deixando seu legado para a educação de Sacramento.

Inspirada nos ensinamentos e na dedicação de Aparecida, a Escola Municipal Coronel Júlio Borges dedicou à sua memória os mais sinceros votos de estima e admiração no Dia dos Professores, em 2021:

“Ser professor é ser maior...
Aparecida Euripa, nossa querida Aparecidinha!
Quantas viagens juntas...
Passamos por ruas, estradas e buracos...
Não nos faltaram obstáculos. E você ali dizendo:
“Dá nada não... só uma poeirinha pouca!”
Você sempre disposta a estender a mão a um colega de profissão ou aluno...
E nossos pirulitos???
Juntos, percorremos quilômetros, nos apoiando nas curvas.
Mas dessa vez a 'poeirinha' passou, você se foi ... chegando o momento de cada um de nós seguir o seu caminho.
Mas nossas experiências, até aqui compartilhadas neste percurso, serão a força para chegarmos ao nosso destino.
A despedida foi necessária, até podermos nos encontrar outra vez!
Fica aqui o nosso reconhecimento e gratidão pelos anos dedicados à educação.
E não 'cairemos antes do tiro' por você!
De onde estiver, receba nosso carinho pelo Dia dos Professores!”



A homenagem acima foi baseada em entrevista concedida a Eliana Garcia Vilas Boas do site https://culturasacramento.com.br/
Texto original disponível no Arquivo Público Municipal de Sacramento, Minas Gerais.

Aparecida nasceu em Sacramento (MG) e faleceu em Sacramento (MG), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Aparecida, Maria Clara Aparecida Ribeiro. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 16 de fevereiro de 2022.