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Aparecido Braga

1963 - 2020

Adotou os genros como filhos e ofereceu-lhes companhia e abrigo quando precisaram.

Cido é um paranaense filho de mãe alagoana e pai pernambucano, que foi morar ainda criança em São Paulo, com os pais e dois irmãos. Lá, viveu por um tempo na Vila Sabrina e depois mudou-se para a cidade de Guarulhos.

Casou-se com Marta, com quem teve quatro filhos e cinco netos. O casamento de trinta e cinco anos era uma relação de amor intenso e de muita cumplicidade. Faziam tudo juntos, tudo mesmo, até a comida em casa, e um não fazia nada se o outro não concordasse. Se ele ficava doente, Marta cuidava dele com muita dedicação. Foi assim quando Cido teve doença renal crônica: a esposa acompanhava-o toda semana na hemodiálise, ficando lá, ao seu lado, e dava banho, porque ele estava bem doente e conseguia fazer pouca coisa sozinho. Levaram até o fim o juramento que fizeram: haveria amor nos momentos de alegria e de tristeza, de facilidade e de dificuldade, de saúde e de doença.

Na vida, Aparecido fez de tudo um pouco. Começou a trabalhar sendo ajudante em restaurante. Depois, foi office boy em uma empresa de produtos odontológicos, no bairro Bonsucesso, em Guarulhos. Atuou lá por mais de dez anos, até que a empresa faliu, e ele se tornou autônomo até se aposentar.

As coisas que mais gostava de fazer eram assistir futebol, Cido era um corinthiano roxo, e ouvir música sertaneja enquanto tomava uma cervejinha todo final de semana. Nessas horas, tinha como companheiro o genro Leonardo, que passou um tempo morando na casa dele quando sua filha Juliana engravidou. Seu outro genro, Vagner, encontrou abrigo na casa do sogro quando ficou desempregado e estava querendo retornar para a Bahia. Prontamente, Aparecido ofereceu o abrigo que virou o lar de Vagner e Ana Carolina. Ao longo da vida, Cido, na verdade, acolheu até quem não era da família. Ele era assim: um homem que gostava de cuidar de todos, e resolver tudo, o administrador da casa.

Foi um homem bom e honesto, que valorizava as coisas certas e era bem exigente quanto a isso. Não gostava de injustiça e ajudava quem precisasse. Mesmo que não tivesse como, ele tirava de onde não tinha para ajudar, já que seu coração era uma fonte inesgotável de amor aos seus e ao próximo.

Compartilhou, em cada dia de sua vida, seu sorriso e sua generosidade, permitindo a cada um dos seus o privilégio de ser abraçado pelo seu amor.

Aparecido nasceu em Nova Esperança (PR) e faleceu em Guarulhos (SP), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Aparecido, Ana Carolina Braga Carvalho. Este tributo foi apurado por Denise Stefanoni, editado por Ana Clara Cavalcante, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 10 de março de 2022.