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Aparecido Donizete Sabino

1967 - 2021

Avô amoroso, soube ensinar os netos a andar de bicicleta, soltar pipa e gostar de terra.

Aparecido e Maria Lúcia formavam um casal perfeito. Ambos vieram de famílias humildes e trabalharam na roça cuidando do plantio, onde se conheceram aos 19 anos.

Casaram-se após um curto namoro de apenas nove meses e viveram uma união de trinta e quatro anos de muita luta, amor e companheirismo. Tiveram três filhos, Catiuça e mais dois lindos meninos, que se tornaram a grande paixão dos pais. Ele sempre sonhou em ter um filho e viu no nascimento dos meninos a realização de um sonho em dose dupla.

Avô de Nicolas e Pedro Henrique, os netos se tornaram o maior presente já recebido. Ele esbanjava amor e carinho com os netos, fazendo tudo o que era possível para vê-los felizes: ensinou os garotos a andar de bicicleta, a soltar pipa e a gostar da terra. Quando se encontravam, os três tratavam logo de sentar-se no chão para brincar de carrinhos.

“Meus pais faziam tudo por mim e pelos meus filhos. Desde que os netos chegaram na vida do meu pai tudo era motivo para ele esboçar um sorriso. Todas as descobertas dos meninos tornavam-se momentos da mais sublime felicidade. Na primeira vez que foi chamado de vovô, seus olhos encheram-se de lágrimas, em uma mistura de choro e gargalhada”, conta Catiuça, complementando, cheia de lembranças:

“Tenho as melhores memórias com meus pais, que sempre foram muito presentes em minha vida. Entretanto, a recordação mais marcante que guardo comigo, foi de quando contei para eles sobre a gravidez do meu primeiro filho. Naquele momento, eu ainda não era casada e me preocupava fortemente com a reação que teriam ao saber da notícia. Quando terminamos de contar, os dois abriram um sorriso enorme e o meu pai já tratou de telefonar para toda a família, anunciando a boa nova”.

Seu Cido era dono da melhor gargalhada do mundo, apesar de sua aparência de bravo. Era extremamente amoroso e tinha um coração gigantesco. Fazia tudo pelos filhos. Catiuça diz que se sente "a filha mais amada desse mundo e agradecida a Deus pela família maravilhosa com que foi presenteada". O pai, por sua vez, demonstrava todo o orgulho que sentia da filha ao falar sobre ela com os amigos.

Aparecido trabalhou por mais de treze anos como Operador de Patrol — máquina niveladora usada em terraplanagem. Ele era completamente realizado nessa profissão, exercendo-a com total empenho e dedicação. Como sonho, sempre almejou viajar, tendo, inclusive, algumas viagens programadas para depois do fim da pandemia. Um de seus maiores desejos era conhecer a Bahia.

Bastante ativo, Aparecido não ficava parado nem nas horas vagas, que utilizava para fazer ajustes necessários por toda a casa e consertar os brinquedos dos netos. “O meu pai gostava muito de plantas. Então, como a casa deles era de esquina e do outro lado da rua havia um terreno baldio, ele cultivou ali diversas frutas para que a criançada do bairro pudesse comê-las. Na época de amora, por exemplo, o pé fica repleto de crianças em volta”, conta Catiuça.

E ela continua falando de recordações: "Lembro-me dele toda vez que escuto a canção 'Meu velho pai', interpretada pela dupla sertaneja Léo Canhoto e Robertinho, principalmente no trecho que diz: 'Não tenha medo, meu velhinho adorado / Estarei sempre a seu lado, não lhe deixarei jamais / Eu sou o sangue do seu sangue, papaizinho / Não vou lhe deixar sozinho, não tenha medo, meu pai'".

“Ele tinha o costume de agradecer após todas as refeições: acabava de comer e logo exclamava um 'Graças a Deus'! Em todas as minhas refeições, eu me recordo disso.”

Catiuça finaliza sua homenagem falando da união que presenciou entre os pais, que faleceram, vítimas da Covid-19, com a diferença de apenas dois dias um do outro, num amor que perdurou na vida e na morte:

“Após a partida dos meus pais fiz uma tatuagem, como forma de homenagem, contendo a frase: 'Saudade é o amor que fica'. Em qualquer lugar que estamos, quando as crianças olham para o céu e veem uma estrela, elas dizem: 'Mãe, olha lá, a vovó e o vovô!'. Eles se tornaram, enfim, as nossas estrelas brilhantes.”

Para conhecer um pouco da história da esposa de Aparecido, acesse a homenagem a Maria Lúcia da Silva Sabino neste Memorial.

Aparecido nasceu em Paulo de Faria (SP) e faleceu em Paulo de Faria (SP), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Aparecido, Catiuça da Silva Sabino. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 10 de agosto de 2023.