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Arlindo Bárbara

1945 - 2020

O lugar vazio à mesa, o silêncio que espera na varanda, o espectador que falta para assistir aos jogos.

Marido companheiro, dentista gentil, presente e carinhoso enquanto pai e avô. Arlindo, homem querido por muitos, era referência de atenção e ternura para todos aqueles que conviveram com ele.

“Filha, tá ‘brabo’, né? Como você está dando conta?”, perguntava ele, demonstrando todo o afeto e a preocupação que habitavam dentro de si.

Extremamente paciente, extravasava esses sentimentos bons quando despendia seu tempo nas ligações com os familiares, fazendo-se disponível a qualquer momento para aqueles que amava.

Arlindo, dotado de qualidades imensuráveis, aguardava na varanda a chegada de seus familiares, recompensando-os com beijos e abraços pela longa viagem. Pela manhã, a relação se invertia, sendo a família quem o esperava, à mesa do café-da-manhã, e Arlindo quem chegava, com o pão quentinho. Na cozinha, fazia questão de inventar sanduíches e, para os adultos, preparava a sua “caipitanga”. Também não negava uma boa caminhada, e em dia de jogo do “Fogão” sentava-se no sofá com os meninos.

Não impôs limites ao amor dedicado à família; era marido, pai, tio, irmão, cunhado e amigo, com todo o carinho que essas palavras carregam; era o vovô que buscava seus netos na van. Agora, Arlindo é o lugar vazio da mesa, o silêncio que espera na varanda, o espectador que falta para assistir aos jogos. “Você tem sido a cadeira vazia que minha mãe olha em todas as refeições”, declara a filha Carina.

“Vai passar, mãe. Eu sei que dói. Eu também amo todo mundo que está no céu, mas a gente tem que aguentar”, disse Malu, de 6 anos, neta de Arlindo, ao ouvir sua mãe chorando baixinho. Pessoas como Arlindo, na verdade, sempre continuarão vivas nas lembranças de quem as conheceram.

Arlindo nasceu no Rio de Janeiro e faleceu no Rio de Janeiro, aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Arlindo, Carina Bruno Bárbara. Este tributo foi apurado por Ricardo Pinheiro, editado por Diego Eymard, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de julho de 2020.