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Arlindo de Souza

1939 - 2020

Não fosse a luz do lampião a iluminar as letras, no papel surrado, seria a lua, as estrelas, e um sonho.

Esta é uma carta aberta de Matilde para seu pai Arlindo de Souza.

A vida nunca foi fácil para você, meu pai. Como você costumava dizer: “nasceu no rancho de capim e precisou desde cedo trabalhar para ajudar em casa”.

Quando criança, você foi engraxate e estudava com muita dificuldade sob a luz de um velho lampião. Veio para Brasília, como tantos, atrás de uma vida melhor, trabalhou como cobrador de ônibus e nunca desistiu de voar mais alto. E embora não tivesse condição e oportunidade de cursar uma faculdade, ainda assim, com muita dedicação, você aprendeu sozinho a língua inglesa, o que lhe rendeu, após uma “suada” seleção, um emprego em uma embaixada, onde trabalhou por mais de trinta e cinco anos.

De você, não tenho muitas lembranças de momentos de lazer em família, pois foram raros, afinal, você sempre dedicou sua vida ao trabalho, para que nunca nos faltasse uma boa casa e comida farta.

Você teve uma vida dura, 100% dedicada à família, mas, sem dúvida, uma vida vitoriosa.

Saudade de você pai, que era devoto de Nossa Senhora Aparecida, amante da língua inglesa e que sempre sonhou em ganhar na Mega-Sena. Que foi o marido que cuidou da mãe até o último dia; que foi pai de quatro filhos, avô de três netos, e partiu, deixando em nós um grande vazio.

Arlindo nasceu em Araguari (MG) e faleceu em Brasilia (DF), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Arlindo, Matilde I N Souza Lucas. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Rosa Osana, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 16 de outubro de 2021.