1961 - 2021
Certa vez salvou o cachorrinho idoso da família com massagem cardíaca, respiração boca a boca e um secador de cabelos!
Filho de pais agricultores, Assir teve uma infância muito simples, sem brinquedos ou comemorações de aniversários. Seu primeiro trabalho foi na colheita de algodão; ali ele percebeu que não era isso o que desejava para a sua vida. Dedicou-se aos estudos para que, assim, pudesse mudar o seu destino.
Ele se casou aos 19 anos e logo teve a primeira filha, Aline. Na sequência da vida separou-se e conheceu a segunda esposa, com quem conviveu por trinta e três anos e tiveram os filhos Geisa e Willian. Mais tarde Aline lhe deu os netos Isadora e Thomas.
Assir se formou em Direito e trabalhou como escrivão diretor no Fórum de Lins, em São Paulo, por trinta e sete anos. Mesmo quando se aposentou, se manteve um estudioso apaixonado, seguindo uma jornada diária de oito horas de estudo. Continuou perseguindo seus sonhos e foi aprovado em um concurso no estado da Paraíba, onde concretizou o desejo de ter o próprio Tabelionato.
Era muito proativo e isso fazia com que ele não desfrutasse de muito tempo livre mas, quando o tinha, amava viajar. Conheceu o Nordeste brasileiro inteiro, alguns países da América do Sul e toda a Europa.
Assir tinha uns ditados próprios, que usava quando achava pertinente: "Nada é por acaso", para quando furava um pneu e até mesmo quando a família perdeu um voo. "A vida é feita de escolhas", para alguém que reclamasse de algo que fosse consequência das próprias escolhas. "Tem coisa que é melhor perder do que achar”, quando os filhos queriam saber de algo que poderia trazer consequências que não tinham certeza quais seriam.
Era muito comunicativo, falava e ria alto e sua presença sempre foi muito forte e marcante e Aline diz a seu respeito: “Meu pai foi um pai bravo. Se irritava fácil. Um exemplo dele ser amável é: quando eu estava grávida da Isadora, eu senti muita vontade de comer Yakisoba e eu morava no interior de Goiás. Na cidade em que eu morava, não tinha um lugar que vendesse. Ele pagou passagem de ida e volta pra mim, só pra eu vir pra Lins comer Yakisoba”.
E ela ainda conclui com carinho, contando sobre a sua generosidade: ”Ajudava as pessoas sem nem saber quem eram, fossem quem fossem. Um dia perto do natal, ele foi visitar a minha avó em outra cidade. Deixaram no para-brisas do carro uma cartinha de uma menina pedindo uma sandália de natal. Lá continha o endereço. Ele comprou a sandália e levou na casa da criança”.
“Tem ainda uma outra história. O cachorrinho da nossa família estava velho e teve uma parada cardíaca. Meu pai fez massagem cardíaca no bichinho, soprava dentro da boquinha dele. E ficava esquentando ele com secador de cabelo pra sair da hipotermia. E assim ele salvou o nosso cão, que viveu por mais uns 5-6 anos.”
Assim foi Assir, um homem de coração gigante, que buscou o melhor pra sim, pro mundo e pros seus.
Assir nasceu em Cândido Mota (SP) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Assir, Aline Martini de Oliveira. Este tributo foi apurado por Ana Helena Alves Franco, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 12 de abril de 2022.