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Atanildo Alves de Jesus Costa

1936 - 2020

Um sábio pelas estradas da vida, que deixa um rastro de seriedade, integridade e missão cumprida.

Sua juventude e adolescência foram de origem humilde e seu maior prazer era jogar futebol. Nessa época, morava em Santo Amaro, no interior baiano e, adulto, contava que tinha como parceiros de bola Caetano Veloso e Gilberto Gil, bem antes da fama, claro.

Aos 18 anos, ingressou no Serviço Público Federal, no IBGE, como auxiliar de geodésia (área ligada à topografia), onde permaneceu até sua aposentadoria, por tempo de serviço.

Sua carreira no serviço público o obrigava a viajar por diversos estados do país, realizando atividades inerentes ao cargo. Quando, em uma dessas tarefas, foi parar em Pernambuco, conheceu Maria de Lourdes, com quem se casou e foi sua companheira por 57 anos.

Teve com "Lourdinha" três filhos de sangue, Atanildo, Lucenilda e Euler; e um adotado, Ivanildo. A família cresceu com os netos Kelven, Luana Karine e Victor. A mais nova chegada foi a do bisneto, o José Neto, de três meses, que ele não chegou a conhecer.

Quando fixou residência em Fortaleza, por ser cidade litorânea, adquiriu um terreno na Praia do Iguape. Lá, com muito esforço e determinação, construiu uma casa exatamente ao seu gosto. Arborizado e tranquilo, deu ao local o nome de "Sítio Bahia", que foi muito usado para reuniões e comemorações familiares e, por isso, deixa várias lembranças boas.

"Meu pai era um homem de baixa estatura, gostava de ser chamado de 'Baiano' e era muito prestativo. Tinha uma visão muito lógica das coisas, apesar de não ter cursado universidade. Mas assimilou muito, através da convivência com diferentes culturas em suas viagens pelo país, tornando-se um homem muito experiente e sábio", diz o filho, Atanildo Júnior.

Tinha que viajar muito, cerca de 30 dias diretos, às vezes mais, e as folgas eram a cada 15 ou 20 dias, quando a família podia ter então, o prazer de sua presença. Nessas folgas, Baiano aproveitava também para realizar alguns reparos em seus veículos, na pequena oficina mecânica, que montou em sua residência. Tinha ciúmes do local, devido à grande quantidade de ferramentas que possuía!

Gostava de ouvir Bezerra da Silva, adorava a música "Reunião de Bacana (Se Gritar Pega Ladrão)", e de beber de vez em quando. Mas, às vezes, se excedia. Por orientação médica e decisão própria, parou de consumir bebida alcoólica e isso melhorou sua qualidade de vida.

Tempos depois, no entanto, veio a doença de Alzheimer. "De início, não soubemos como lidar, mas com paciência, dedicação e acompanhamento médico devido, conseguimos cuidar de meu pai. Gostaria de agradecer os cuidados e carinho de minha esposa Josefa e ao Dr. Arão Zvi Pliacekos, ambos sempre trataram dele com zelo e ética", relata Atanildo Júnior.

Baiano, quando encontrava alguém metido a esperto ou sabe tudo, costumava falar: "Um 'orelha seca' desses nem sabe o que está dizendo!" Não é o caso aqui: Atanildo Júnior sabe bem, e disse bem-dito.

Atanildo nasceu em Santo Amaro (BA) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Atanildo. Este tributo foi apurado por Pedro Lima, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de junho de 2020.