1958 - 2021
"Pensa em um número da sorte, mas só me diz quando acordar." Assim acalmava seus pacientes antes da cirurgia.
Attila nunca passava despercebido: parte por sua grande estatura, parte por sua presença marcante. Cativava pelo seu jeito extrovertido e sempre de bem com a vida. Conhecido carinhosamente pelos mais próximos como Junior ou "Doutor", era extremamente ligado à família, fazendo o possível para estar sempre perto dela.
Gaúcho de alma capixaba, morou por muitos anos em Vitória, lugar onde seu pai nasceu. Na Cidade Sol, colecionou inúmeros momentos especiais, como sua formatura em Medicina. Entretanto sempre carregou consigo um pouco do Rio Grande do Sul, através de seu amor pelo Sport Club Internacional.
Desde a infância, possuía uma cumplicidade extrema com a irmã Andréa, que se recorda com afeto de histórias marcantes: "Meu irmão e eu sempre nos demos bem. Quando criança, ele chamava banana de 'mingaga'. Então, passei o resto da vida lhe chateando por isso. Dávamos muitas risadas e ele se fazia de incomodado, mesmo no fundo não se importando. Na juventude, éramos companheiros um do outro, indo a todos os lugares juntos. Naquela época, eu tinha ciúmes de todas as namoradas dele. Para mim, ninguém estava à altura dele, exceto quando conheceu a Kátia, que aprovei logo de cara".
O relacionamento com Kátia foi como um encontro de almas: se conheceram, namoraram, noivaram e casaram em seis meses. Foram vinte e nove anos dedicados um ao outro, até a partida dele. Do amor entre os dois, nasceu Ramiro, a quem sempre se referia como "meu filho amado". Pelo bem-estar de sua família, Attila movia céus e terras. Carinhoso com os sobrinhos, tratava-os como se fossem filhos, estando sempre a postos para ampará-los e dar conselhos e sermões quando necessário.
Não se sabe ao certo o que o levou a se tornar médico, mas o era por vocação. Desde o início da faculdade, fez diversos estágios em hospitais, com o propósito de adquirir ao máximo vivências profissionais. Tornou-se um competente médico anestesiologista: quando havia complicações com algum paciente, chegava preocupado em casa e não se tranquilizava até que tudo estivesse bem. Mesmo com a rotina intensa de trabalho, cerca de 12 horas por dia, se mantinha sorridente e atencioso com todos.
A brincadeira com os pacientes era que eles sugerissem um número da sorte para que ele apostasse, mas só contassem a ele após acordar. E não é que apostava no número sugerido e ganhava? Por meio deste gesto singelo, trazia aos pacientes a segurança de que logo acordariam. Para as crianças, o acalento vinha em forma de brincadeiras que faziam com que os pequenos se desmanchassem em sorrisos. Era seu compromisso de que tudo ficaria bem.
Com esse jeito tão acolhedor, recebeu inúmeras homenagens póstumas de pessoas que encontraram nele toda a confiança e o acolhimento necessário para superar seus medos nos momentos mais difíceis de suas vidas. Inspirado pela conduta exemplar do pai, Ramiro decidiu seguir seus passos e se tornar médico. E Attila compartilhou com o filho a ansiedade pela sonhada formatura, que esteve a poucos dias de presenciar.
A espiritualidade era algo muito presente em sua vida: possuía uma fé inabalável em Deus. Em sua casa, havia um altar repleto de santos e rosários, aos quais sempre pedia intercessão nos momentos difíceis. Nas horas livres, dedicava-se à leitura de livros espíritas. Acreditava na imortalidade da alma e que através de ações genuínas de afeto e ternura com o próximo é que se encontra o real sentido da existência. Tinha também muito orgulho de ser maçom e de seguir fielmente os preceitos de moral e ética em tudo o que se propunha a realizar.
Sua maior satisfação era reunir todos os familiares para um almoço ou jantar. O mestre-cuca da família tomava conta da cozinha e só se sentia plenamente satisfeito depois que todos os convidados elogiassem a refeição que ele havia preparado. E repetissem o prato.
Apaixonado por dias de sol e pelo mar, sempre que possível ia à praia com toda a família. Encontrava junto à natureza e perto de quem amava a melhor forma de recarregar as energias. Planejava morar perto da praia depois que se aposentasse, e viveu um pouco do sonho de morar no apartamento de Balneário Camboriú nas aulas de surfe que já fazia.
Entre tantos ensinamentos valorosos de alguém que dedicou o seu viver a nobre missão de salvar vidas, talvez aquele que mais lhe represente seja o fato de que expressava seu amor sem pudores. Isso se refletia no empenho dedicado ao seu trabalho, nas refeições preparadas com tanto carinho para a família, na relação firme construída com seus pacientes. Deixou em cada gesto, em cada sorriso, em cada lembrança, a importância de dizer e demonstrar o que sente a quem se ama. Como o filho brilhantemente o descreveu: "Attila era um homem com 1,90 m de altura, 40 cm de pé e o restante, coração".
Attila nasceu em Palmeira das Missões (RS) e faleceu em Ijuí (RS), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela irmã e pela sobrinha de Attila, Andréa Castanho da Maia e Ligia Maia. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Andressa Vieira, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 2 de março de 2022.