1972 - 2020
Não se contentou apenas em decorar lugares, teceu sonhos e decorou pessoas.
Além de gentileza, fé e oração, as boas gargalhadas não podiam faltar em seu dia. Audifax sempre foi o centro das atenções, seja na família ─ como primeiro filho e neto ─, ou na passarela da vida, ao vibrar luz e esbanjar um espírito livre.
Audi gostava de tornar as coisas mais lindas, tanto que resolveu fazer disso sua profissão. Chegou a cursar arquitetura na UFAL (Universidade Federal de Alagoas), mas não se contentou em decorar apenas lugares: teceu sonhos e decorou pessoas.
Foi então, no meio do ateliê da querida mãe, que seu talento para a alta-costura foi tecido. Audifinhas pintava e bordava ao fazer as irmãs Ana e Adriana de modelos, e ai delas se não desfilassem!
Entusiasta e entusiasmado, era cheio de presepadas desde cedo. Mal sabia que o que fazia era arte, arte que, anos depois, enfeitaria a vida de muita gente na entrada de um altar ou nos memoráveis 15 anos de uma debutante.
“Ele colocava um sorriso no seu rosto. Fazia você se convencer de que era linda do jeito que é”, fala Aninha, emocionada ao se lembrar das esculhambações que recebia do irmão mais velho quando desleixava da saúde.
Ah, comemoração era com ele mesmo. Toda festa era tempo de se divertir exercendo sua maior virtude: desenhar e criar roupas. Sempre inovando e se reinventando, o último toque ─ o arremate ─ era sempre dele nas provas finais. Ele vibrava, com toda emoção, ao ver as pessoas felizes com o resultado, dando corpo e forma às peças.
O estilista alagoano fez sua carreira local e nacional, demonstrando um bom gosto natural pela arte - “dom elevado da alma”, como afirma sua irmã Ana.
Ainda que trabalhasse muito nos bastidores dos eventos, Audifax não recusava cantar alto e se sacudir numa boa festa com os amigos e a família, ao som de Prince, de Madonna e até mesmo embalado pelo reggae de “Malandrinha” ou a lambada de “Ela é Americana”.
Era caseiro e, às vezes, preferia aproveitar um bom vinho aos sábados, finalizando uma semana cansativa de trabalho. Mais que vestidos luxuosos, Audi colecionava bons momentos e viagens marcantes ─ nas quais adorava ver coisas novas, arejando a mente criativa.
Para além dos desfiles de sua marca, peças estampadas na TV e nas capas das grandes revistas, as criações mais marcantes de Seabra foram, sem dúvida, seus dois filhos: Leonardo, que se formou engenheiro, e Maria Eduarda, que herdou o talento do pai para a moda. Amor enorme, sempre se emocionava ao falar dos filhos.
Homem de fé imensa, a espiritualidade católica era herança de família. Devoto de Nossa Senhora e de Santa Terezinha, foi numa missa que Audi conheceu seu último e intenso amor, Wendel Seabra. E foi com muito carinho, atenção e paciência que lhe ensinou a arte da costura.
Audifax nasceu em Maceió (AL) e faleceu em Maceió (AL), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã e pelo marido de Audifax, Ana Lydia Seabra e Wendel Seabra. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Kamilla Abely, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de dezembro de 2020.