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Augusto César Cunha de Magalhães

1971 - 2020

Menino do interior que virou homem na cidade grande. Construiu família e amizades que se lembrarão dele para sempre.

Esta é uma homenagem do filho Igor para seu pai, Augusto César:

César era um dos 13 filhos da Dona Cotinha e do Seu Raimundo. Foi em Croatá, cidadezinha do interior do Ceará, que ele cresceu. Sendo um dos irmãos mais velhos, muito cedo já precisou trabalhar para ajudar os pais. Ainda menino, começou a vender doces nos ônibus que circulavam entre os municípios da região. Até que um dia, pegou um desses ônibus e fez sua própria viagem. Tinha pouco mais de 10 anos quando saiu da casa dos pais. Partiu para a capital em busca de mais oportunidades.

Em Fortaleza, foi morar com uma família de conterrâneos conhecidos e lá passou alguns anos. Seu primeiro emprego foi como frentista em um posto de gasolina próximo de onde morava quando era ainda um jovem rapaz. Teve de se tornar responsável por si mesmo muito cedo. Aprendeu a se virar sozinho na cidade grande, mas tinha ajuda dos amigos que fazia tão naturalmente.

Aos 16 anos, conheceu a futura esposa em um carnaval na Praia de Iracema. Depois, foi pedindo para encontrar-se com ela algumas vezes... Pediu, buscou, insistiu e conquistou. Os dois se apaixonaram e começaram um longo namoro. Veio então o casamento de toda uma vida com Rosa, de quem foi companheiro e admirador.

Em seguida, chegaram os filhos: Igor e Bárbara. O amor pelos filhos era muito grande, fazia por eles tudo que estava ao seu alcance. Às vezes, demonstrava esse amor de forma discreta, podia ser preparando uma das suas pizzas em um fim de semana qualquer ou simplesmente ligando para dizer: “Espera aí que vou te buscar”.

Também tinha uma relação linda com os dois cachorrinhos da família: Totó e Dory. Era um chamego lindo de ver.

Além disso, também era um filho, irmão e tio muito querido. Estava sempre em contato com a família, ajudando em tudo o que podia. Muito prestativo e gentil, todos gostavam dele. Era um cara muito gente boa! Tinha muitos amigos. Amizade para ele era fácil de fazer. Bastava conhecer e permitir que ele fizesse algo por você.

Teve vários trabalhos diferentes. O último foi como taxista. Talvez a profissão em que ele mais gostou de atuar. Era muito cuidadoso com o carro e um ótimo motorista. Conhecia a cidade inteira e algo mais. Sabia chegar em qualquer lugar, por qualquer caminho. Ele gostava disso: estar na rua, no meio do povo. Curtia sair de casa todo dia para trabalhar e ter a liberdade de andar por este mundo.

Era alegre, gostava de brincar, de rir de piadas repetidas. Aliás, representava muito bem o típico cearense. Sempre dava preferência à programação local quando ouvia rádio ou assistia televisão. Apaixonado pelo Fortaleza Esporte Clube, o Leão, time da cidade que escolheu para viver. Difícil o dia em que ele não vestia a camisa do time. Adorava forró, show de humor, praia e sertão. Curtia usar um chapéu de vaqueiro também, devia lembrar do seu pai. Valorizava muito suas raízes.

Sabia aproveitar as coisas simples da vida, a felicidade para ele era algo fácil de ter no dia a dia. Bastavam a sua cervejinha, uns petiscos, música e a companhia da família ou dos amigos. Deu a cada um de nós muitos momentos felizes. Faz muita falta aqui.

Augusto nasceu em São Gonçalo do Amarante (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 48 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Augusto, Igor Santos Magalhães. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Manuella Caputo, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de novembro de 2020.