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Beatriz Avelino de Magalhães

1942 - 2020

Como uma bússola que aponta o caminho, ela foi o Norte que guiou a família ao reencontro.

Dona Biá, como era carinhosamente chamada, conduziu a família a um mesmo ponto de encontro — a cidade de Brasília. O desejo de uma mãe em reunir a família formada na pequena cidade de Encanto, no Rio Grande do Norte, moveu o pai e três filhos a percorrer mais de dois mil quilômetros de estrada para se juntarem aos outros dois, que já haviam se mudado para a capital do país.

Viver longe dos filhos e ver a família separada dividia o coração de dona Biá, apesar de a distância ter ocorrido para ajudar no sustento da família. O dom de direcionar os seus para o caminho do amor e da união, os levou a estarem próximos novamente no ano de 1993 e, a partir disso, presenciarem juntos a chegada de novas gerações. Até o momento de sua partida, dona Biá já havia se tornado a segunda mãe de onze netos: Josiane, Janaina, Mayra, Aryane, Milena, Marina, Murilo, Pedro, André, Miguel e Maria Clara.

Ao chegar em Brasília, tratou logo de se sentir em casa por meio da fé. Católica fervorosa, participou na construção da comunidade Cristo Redentor, em São Sebastião, compondo os primeiros membros da paróquia junto ao seu esposo, Francisco. Quem cruzava com dona Biá não tinha dúvidas de sua devoção à Nossa Senhora, já que os tons que sempre coloriam suas roupas eram azul e branco.

Sua presença sempre foi muito notada, era muito amada e querida pela comunidade. Aos domingos, na missa das 7h30, lá estava dona Biá e seu Tico sentados juntos sempre no mesmo banco. Cumplicidade e companheirismo eram definições que se encaixavam na relação que preservaram por cinquenta e cinco anos. Celebrar as bodas de ouro do casal foi um dos momentos familiares mais marcantes, que mobilizou todos os filhos na organização. O desfecho não podia ser outro: “Todos ficaram radiantes com a alegria deles”, conta a filha Ângela.

As deliciosas histórias sobre a juventude de dona Biá prendiam a atenção da família, e para Ângela uma em especial selou os laços que tinha com a mãe: “Tínhamos uma ligação muito forte! Ela sempre dizia que meu parto foi muito difícil e, por isso, eu era um pedaço que não desgrudava dela. Sempre estivemos juntas nas lutas da vida e foi assim até o seu último dia; procurei junto com os meus irmãos sempre zelar e permitir conforto nas dificuldades”.

Biá percorreu quase oito décadas sob muitos desafios, um deles foi se deparar com um câncer no meio do caminho. Em agradecimento pela graça da cura, viajou até Aparecida, em São Paulo, para pagar uma promessa feita por sua irmã Cicinha — realizando o sonho de ir até o Santuário e demonstrando por meio de obras o tamanho de sua fé.

Despediu-se de sua morada terrestre num domingo, dia dedicado ao Senhor. Desde então, a alegria que Biá carregava com sua presença tem sido festejada no céu.

Beatriz nasceu em Encanto (RN) e faleceu em Brasília (DF), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Beatriz, Angela Granjeiro. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 17 de agosto de 2021.