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Beatriz Janaína Nunes Ribeiro

1998 - 2021

Estivesse estudando ou numa festa, tinha a habilidade de fazer as pessoas sorrirem, e esse era seu maior prazer.

Dona de uma risada envolvente, alta e capaz de despertar o riso de quem estivesse ao seu redor. Filha única, Beatriz foi uma menina muito tímida que desabrochou aos poucos. Ela conseguiu se compreender como mulher lésbica e, ao passo que crescia, foi ficando mais vaidosa e feliz consigo mesma. Quando realizou a transição capilar, apaixonou-se pelos seus cachos naturais.

Leonina, ela gostava de ser vista. Andava com o som do carro bem alto e divertia-se muito frequentando festas. Além disso, era muito inteligente e adorava estudar. Com sua esperteza, ela sabia como motivar os amigos a seguirem seus caminhos e aprenderem coisas novas. "Beatriz foi uma incentivadora de sonhos de um jeito que ninguém nunca foi”, relembra Carol, sua melhor amiga.

Era tão estudiosa que passou por algumas graduações e ainda queria outras mais. Foi quando decidiu aprender sobre si, fazendo terapia, que passou a ter um olhar ainda mais empático para os outros. Dizia que as pessoas não eram ruins, só não eram bem resolvidas.

Cheia de sonhos e muito bondosa, sabia que poderia chegar longe e sempre que avançava fazia questão de levar aqueles que amava junto com ela. “Meu sonho é ser mãe. Quando o Fêfe nascer, eu vou dar ‘isso’ para ele, eu vou deixar uma cadeirinha no meu carro, porque todo dia eu vou levar ele para dar uma volta.", ela dizia.

Dona de uma presença forte e determinada, era o braço direito do chefe no trabalho e uma excelente jogadora de tênis de mesa, chegando a ir para campeonatos; de fato, uma mesatenista de talento. Quando mais nova, tinha também vontade de ser jogadora de futsal.

Sabia curtir a vida e cada um de seus momentos. Com suas economias, esperava poder passar um mês na praia, pois amava viajar para o litoral. Foram poucas idas, mas todas foram muito bem aproveitadas.

Não se envolvia em brigas, não tinha tempo para isso. Preferia aprender algo novo, como estava fazendo com o saxofone. Gostava de namorar, comer com os amigos e ir ao seu lugar favorito, o pico, uma região alta da cidade com poucas casas. Era lá onde ela passava seus momentos mais felizes e mais introspectivos.

Sua felicidade com a vida deixava-a com o riso frouxo, mas ela também se emocionava em sessões de cinema, quando assistia a filmes tristes. Não chegava a ponto de cair em lágrimas, porque reconhecia que a tristeza faz parte da vida, assim como a alegria.

Suas conquistas eram inspiração para quem tinha sonhos e estava próximo a ela. Havia financiado uma casa e aproveitou a vida nesse lar enquanto pôde. Partiu deixando a todos que a conheceram a mensagem que sempre quis passar ao mundo e da qual foi exemplo vivo: a vida é para ser sonhada e vivida.

Beatriz nasceu em Fernandópolis (SP) e faleceu em Fernandópolis (SP), aos 22 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela melhor amiga de Beatriz, Caroline Fernandes da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Leonardo Malta da Conceição, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 24 de junho de 2021.