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Benedita Aparecida Guicioli

1954 - 2020

De beleza única, olhar intenso e profundo, o tempo a tornava cada vez mais encantadora.

Detestava o nome Benedita, pior ainda se chamassem de Dita! Mas nunca pensou em mudar, pois foi escolhido pela mãe que ela tanto amava.

Enfrentou muitas dificuldades, mas nunca desistiu diante de nenhuma delas. Sabia que o esforço haveria de valer a pena e que os problemas são apenas uma parte feia da vida, que costuma ser muito bonita para quem insiste na caminhada. Benedita insistiu.

Quando era jovem, chamava a atenção pela beleza e encantou muitos corações com sua formosura. Atraiu inumeráveis olhares que ficavam hipnotizados com a boniteza da moça que não gostava do nome. Sonhava em se casar e ter uma família, e conseguiu se realizar em uma das valsas que bailou com a vida. Gostava muito de dançar e foi em um baile que teve a sorte grande de dividir uma dança com o amor. A dança não acabou nunca mais.

Casou com Devanir, o companheiro de baile e de vida. Dividiram anos de muitas dificuldades, mas, se não faltaram problemas, sobraram muito amor e afeto. Os dois ensinaram que sempre existem os fardos da vida, mas se a gente tem a sorte de dividir com alguém que ama, tudo fica mais leve. Do amor do casal nasceram Davidson, Daniela e Denis, que tiveram muito orgulho dos pais. Honesta e íntegra, sempre fez questão de ensinar aos filhos o certo e o errado, e os três aprenderam com os pais que acima de qualquer contrariedade, o amor sempre vence.

Muito guerreira, lutou bastante para junto com o marido ter seu cantinho, como ela carinhosamente gostava de falar. Tinha um carinho enorme por plantas. Amava todas, e ai se alguém falasse mal delas! Cozinheira de mão-cheia, amava cozinhar para as pessoas. Amava filmes, como amava! Era seu passatempo favorito, esgotava os catálogos dos streamings, não tinha filme que ela não havia assistido.

Apaixonada pela família, cuidava do esposo como sempre fez na juventude, e não que alguém pensasse o contrário, mas só para confirmar e reafirmar, nunca se cansou de dizer o quanto o amava. Com o tempo, os filhos foram casando e vieram noras, genro e netos, que eram seus xodós que carinhosamente chamava de "chumbrega".

Independente, não gostava de dar trabalho. Sempre tomava as dores das pessoas, mas não dividia as próprias. Tinha um coração gigante que transbordava amor, bondade, e carinho. Sábia, tinha os melhores conselhos. Alegre, era dona das melhores risadas. Foi uma grande mulher, uma grande mãe, uma grande pessoa. Mesmo em silêncio, cativava todos. Seu olhar era intenso e profundo e, embora não tivesse mais a beleza da juventude, era difícil resistir a Benedita, porque seu coração era ainda mais lindo do que ela fora em sua mocidade e, diferentemente da outra beleza, essa não envelhecia nunca, aliás, parecia ficar ainda mais encantadora.

Benedita deixa muita saudade em todos que tiveram a oportunidade de conhecer a mulher que era incrivelmente bonita por fora e encantadoramente maravilhosa por dentro. Familiares e amigos sentem saudade todos os dias. Sem ela, o mundo perde um pouco do encanto; o som perdeu a graça sem sua gargalhada gostosa, as cores acinzentaram depois que as plantinhas ficaram sem seus cuidados. Mas a saudade é a memória do coração e Benedita viverá para sempre através do legado de força, bondade e resiliência que deixou aqui. Não dançando conforme a música, mas dançando as músicas que queria, com toda determinação e beleza de viver que só Benedita tinha.

Benedita nasceu em Gália (SP) e faleceu em Birigui (SP), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Benedita, Denis Fernando Guicioli. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de março de 2021.