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Bergenson de Oliveira Viana

1982 - 2020

Apaixonado por rock e rap, aceitou até ouvir música sertaneja, só para alegrar o melhor amigo.

Benso, como era carinhosamente chamado pelos amigos, era filho único e teve uma filha, Elys, que em 2021 tem 16 anos. O pai biológico deu lugar a Zilmar, que o criou junto da mãe, Maria do Socorro. Ainda que não tenha tido irmãos, a vida lhe presenteou com Michel, o amigo de infância que se apresenta como “quase irmão” de Bergenson. É Michel quem faz esta homenagem ao amigo de mais de vinte anos. Esta é mais uma homenagem prestada a Benso pelo amigo. Ele tatuou em um dos braços a frase ‘Enquanto eu respirar vou me lembrar de você, Bergenson’. É um trecho da música que ele mais amava na vida, chamada “O Anjo Mais Velho”, do Teatro Mágico. Além de quase irmãos, eram compadres. Bergenson batizou o filho de Michel, que é padrinho de Elys.

“Nunca, jamais, em nenhum dia sequer ao longo desses mais de vinte anos nos despedimos um do outro sem um 'eu te amo meu irmão' e um beijo do rosto”, conta, emocionado, o amigo. Benso vivia intensamente e se dedicava a todos à sua volta, sem fazer diferença. Era muito querido por todos, e nos últimos anos dedicou-se também à igreja e a projetos de apoio a pessoas em situação de vulnerabilidade social.

“Há quem diga que não via um sem a presença do outro, pois sempre que possível estávamos juntos; fosse para fazer nada ou para ouvir rock e rap, que era o som preferido dele”, diz Michel. Adulto, Benso chegou a ouvir sertanejo para agradar ao amigo. A amizade era tamanha que até trabalharam na mesma empresa por alguns anos. “Chegou a namorar a prima da minha esposa para que de fato fizesse parte da família”. Raras foram as vezes em que os amigos passaram uma semana sem se encontrar.

Uma amizade perpetuada em tatuagem e que começou na adolescência, na época da escola, em Parauapebas, no Pará. Eles se conheceram no colegial. Michel acabara de ingressar na escola particular na cidade de Parauapebas, depois de anos em escolas públicas; Benso estudava há anos no particular, talvez por ser filho único, pensa o amigo. “A família dele mantinha um padrão de vida simples, mas superior à minha e, de cara, nos identificamos”. Michel conta que era discriminado por ter vindo da escola pública. “Ele foi o único a se aproximar pra me apresentar a nova escola e compartilhar os livros”, escreve o amigo.

“O Bergenson era o tipo de pessoa que emanava bom astral e sempre vivia cercado de amigos — muitos, muitos amigos —, herdei todos. Sua casa, no centro da cidade, tornou-se ponto de encontro de todos os que compunham esse grupo, o que nunca foi problema para tia Socorro”, conta Michel. “Uma das coisas que me marcou muito foi o fato de ele ter me ouvido falar uma vez que gostava de uma certa marca de bolachinha recheada. Eu não podia comprar. Então, dali em diante, ele pediu pra mãe para sempre ter a bolachinha em casa. E se só tivesse uma, era minha, ninguém podia comer”.

Além de solidário, Michel conta que Benso tinha uma característica marcante: a coragem. “Exercia liderança sobre os demais e, com isso, me incluiu também”. Foi na escola que os adolescentes conheceram o primeiro grande amor: apaixonaram-se pela mesma menina. “Ele, pra não me magoar, abriu mão de tentar conquistar a garota”. No entanto, o destino recolocou a moça na vida de Bergenson: ela se tornou a mãe de Elys, sua única filha.

“Sentíamos um pelo outro um amor intenso. Prometemos ser padrinhos um do filho do outro, o que anos depois se tornou realidade”. Michel queria que ele pudesse ter vivido mais tempo para que seu filho, João Marcos, visse que homem maravilhoso era o padrinho dele. A convivência de padrinho e afilhado marcou também o menino João Marcos, que chamava o "dindo" de “Mim”. Após a partida de Bergenson, o afilhado perguntou ao pai: “Eu sou filho único igual ao "Mim", quem vai me proteger quando você não estiver mais aqui?”. O pai, na mesma hora, respondeu: “Meu filho, você encontrará o seu Bergenson, um amigo tão importante quanto seu padrinho foi para o seu pai; papai do céu sabe de tudo e o querer de Deus nem sempre é compreendido por nós. Deus nos deu o prazer de tê-lo por esses anos e o levou para morada eterna”. Bergenson deixou saudades e marcas profundas com quem conviveu. “Enquanto eu respirar, vou me lembrar de você”, finaliza o amigo.

Bergenson nasceu em Brejo (MA) e faleceu em Parauapebas (PA), aos 38 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo amigo de Bergenson, Michel Wesley Silva da Costa. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 4 de agosto de 2021.