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Carlos Alberto Nunes dos Santos

1957 - 2020

Um homem leal às suas paixões.

Pense num homem que levava a sério as suas paixões! Esse era Carlos Alberto. Carregava tudo o que mais amava o tempo todo consigo, seja no corpo ou na pele. Quase todo o guarda-roupa era recheado de dois tipos de peças: camisetas com as fotos da família ou uniformes do Sport Club do Recife. Difícil era vê-lo sem vestir os seus grandes amores. E, para as ocasiões em que era preciso usar outra roupa, lá estavam as tatuagens nos braços com os nomes dos parentes amados e com o escudo do clube de coração.

Futebol era algo importante para ele. O nome que recebeu dos pais, veio de um jogador do Sport, da década de 50. Carlos Alberto chegou a participar de testes para ele mesmo jogar pelo Leão, mas não emplacou. Acabou tendo um sucesso muito maior no papel de torcedor. Quando o Sport vencia, ele maneirava nas provocações por medo de represálias e por respeito aos rivais. Mas se tinha um jeito de ver esse homem perder a paciência, era só dizer que o Sport ganhou na marmelada.

Música também tinha um lugar especial nesse coração rubro-negro. Fã de Legião Urbana, Carlos Alberto conseguiu transmitir para os filhos o apreço pela poesia de Renato Russo. Ele dizia, inclusive, que cada um deles era representado por uma música. “Tempo Perdido” era a de Audrey. “Pais e Filhos”, a de Anninha. “Índios”, a de Caio.

O mar era outro grande amor. Morou muitos anos perto da praia para poder saciar uma vontade permanente: sentir a brisa no rosto e a textura da areia sob os pés.

Carlos Alberto estava vivendo uma fase mais leve da vida. Tinha trabalhado muitos anos como bancário. E, depois de se aposentar, passou a valorizar pequenas alegrias do dia a dia, como preparar um caranguejo delicioso, que a família amava.

Enorme é a falta que Carlos Alberto vai fazer para quem mais o amava. Dinha, a companheira de quase uma vida inteira. Os filhos Audrey, Anninha e Caio. A mãe Ana. A sobrinha Carlinha, a quem ele queria bem como se fosse pai em vez de tio. Quatro irmãos, diversos sobrinhos e sobrinhos-netos. Todos com saudade dos momentos vividos e com um vazio difícil de preencher no peito.

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Carlinhos, assim que era chamado. Sempre brincando e fazendo as pessoas sorrirem. Costumava dizer que "a vida é um playground, é só saber com o que brincar".

Chegava a ter uma pureza rara de se encontrar. Era um bancário aposentado e torcedor voraz do Sport. Sempre dizia que queria ser enterrado com a bandeira do time e sua vontade foi realizada.

Tinha muito apego às coisas simples da vida. Gostava de ver todo mundo bem. Morava sozinho, mas estava em sintonia com todos. Para não dar "trabalho" à família, não relatou que estava com os sintomas da Covid-19.

"Seu silêncio, silenciou a todos nós. Deixa-nos uma lição reversa, não devemos guardar a nossa dor. Precisamos dividir as alegrias e as dores também. Ele preferiu sentir a dor calado. Lamentável para todos nós. Sentiremos falta do seu existir", diz o irmão Alexandre.

Carlos nasceu em Recife (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha e pelo irmão de Carlos, Audrey Nunes e Alexandre Nunes dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Leonardo Aquino, editado por Raiane Cardoso, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de julho de 2020.